Maria Montessori, primeira médica italiana, tornou-se uma grande cientista do desenvolvimento infantil, graças às suas pesquisas, trabalho que resultou na criação de um método de educação que leva o seu nome – Método Montessori. Entre muitos registros de suas pesquisas, escreveu na introdução do seu livro A CRIANÇA1: “Finalmente, após trinta anos de estudos, consideramos as crianças seres humanos abandonados pela sociedade e, sobretudo, por aqueles que lhes deram e conservam a vida. Mais adiante, referindo-se à classe operária com a qual iniciou sua trajetória pedagógica, acrescenta: “O que é a infância? Um incômodo constante para o adulto preocupado e cansado por ocupações cada vez mais absorventes (…). Não há lugar para elas nas ruas porque os veículos se multiplicam e as calçadas estão apinhadas de pessoas apressadas. Os adultos não dispõem de tempo para se ocuparem com elas, pois são oprimidos por compromissos urgentes. (…)”. E sobre crianças de classes mais favorecidas diz: (…) “Mesmo nas melhores condições, a criança fica confinada em seu quarto, entregue a desconhecidos assalariados (…)”.
Muito embora estas palavras refiram-se a uma análise da realidade social da criança no Séc. XIX, qualquer semelhança é mera coincidência (?). Considerando-se as particularidades da época, as mudanças são somente de contexto, pois a criança, hoje, está confinada não só em seu quarto, mas a um distanciamento do pai e da mãe, pelas mais diversas circunstâncias.
Apesar do ritmo de vida, quem não se sente bem com a atenção daqueles que nos rodeiam? Quem não gosta de se ver reconhecido, valorizado em suas atividades? Quem não precisa cultivar sua autoestima para preservar o bem estar pessoal e, consequentemente, nas relações do dia a dia? Assim também a criança. Ela necessita de atenção constante para o seu desenvolvimento de modo a assegurar sua saúde física (alimentação, higiene, sono, vestuário…), mental (cognitiva, intelectual, cultural…), motora (estimulação dos movimentos como falar, andar, comer (sozinha), vestir-se…), emocional (sentir-se amada, protegida, cuidada…) e social (conviver com as diferenças…).
Para uma convivência tranquila e um desenvolvimento social saudável, nada como estar em uma escola. Mas isso apenas, não basta. Há uma série de circunstâncias que fazem parte deste período e que depende diretamente da participação da família, como se fazer presente em suas atividades escolares – tarefinhas, reuniões, eventos promovidos pela escola. O exemplo é tudo. E a presença constante dos pais nos compromissos dos pequenos, torna-se uma forte referência para a criança de como lidar com as diferentes situações de vida. Todas essas circunstâncias agem nas diferentes áreas do desenvolvimento humano, fazendo eco na sua forma de relacionar-se com o mundo.
E que bom o pai e a mãe estarem na minha escola. Não tem idade para isso. Mesmo com a negação do adolescente, há um mútuo reconhecimento: do tempo que os pais estão dedicando para irem à sua escola, do orgulho de mostrar seus pais aos seus colegas, da valorização dos pais pelas suas atividades reconhecendo a importância do que faz e da alegria que se traduz em sentir-se cuidado(a), protegido(a) e amado(a). Quer bem estar maior?
E viva as reuniões de pais (pode-se sugerir a algumas escolas que mudem o formato de suas reuniões), os festejos de datas comemorativas, as feiras de Ciências, e todos os eventos que a escola promove: sempre uma grande oportunidade de valorizar o trabalho de nossos filhos e fazê-los mais felizes! Afinal, quem não gosta de ser reconhecido naquilo que faz?
Referência
1 MONTESSORI, Maria. A Criança. São Paulo: Editora Portugália, s/d.
Este artigo foi publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Biguaçu, nº 4, maio de 2012, p. 43.
Rita Madalena Bunn S. Ramos – Consultora Educacional, Palestrante, Especialista em Psicologia Social, Especialista em Educação Montessori, Terapeuta de Inclusão Pedagógica e Social, Membro da Escola de Pais – Seccional Blumenau, e-mail: ritabsramos@hotmail.com
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