Pai, quer brincar comigo?

Veja se reconhece essa cena: você compra um presente caro pro seu filho. Ele abre o pacote, tira o brinquedo, e vai brincar com a caixa de embalagem. Ele não gostou do brinquedo? Você escolheu errado? Não necessariamente. Ele apenas está tentando lhe dizer que o sistema de valores de uma criança é diferente do adulto. Para ele, muitas vezes, mais do que o produto que ele acabou de ganhar, o que ele está valorizando mesmo é o ato de brincar. Aí a gente vê as crianças largando seus brinquedos caros para brincar com tampas de panela, vasilhas velhas, garrafas de plástico vazias.

Outra cena comum a quem tem criança em casa. Intervalo do desenho na TV, surgem as propagandas de helicópteros que voam sozinhos, bonecas que falam, cantam e dançam, carrinhos super velozes, e a criança nos comunicando: “eu quero esse”. Nova propaganda, mais um “eu quero esse”. Outra propaganda, “mãe, me dá um desse?”. Mais uma, “pai, eu quero esse”. Um dia ainda quero aproveitar meu tempo ocioso anotando quantos minutos de publicidade cabem dentro de um canal infantil de televisão.

Nada contra os brinquedos, vou avisando desde já. Além de uma boa livraria, o lugar que mais gosto de passear é uma loja de brinquedos. Apesar dos meus quarenta e poucos anos, ainda fico fascinado pelos jogos, bonecos, carrinhos e tantas outras maravilhas que a gente encontra por lá.

E nada contra dar brinquedos a uma criança. Ao contrário, há poucas sensações no mundo comparáveis ao prazer de ver as reações de uma criança ao receber um presente. Quem gosta de crianças adora ver a alegria delas neste momento, e se alegra junto com ela.

Mas voltemos à primeira cena, e à mensagem que ela nos traz: o ato de brincar é mais importante do que o brinquedo em si. Nós adultos precisamos aprender isto com as crianças. Mais do que um brinquedo, a criança deseja brincar. Especialmente brincar com as pessoas que são significativas para ela.

Sim, é importante que a criança desenvolva também sua capacidade de brincar sozinha, como forma de exercitar sua imaginação e criatividade. Do mesmo modo, brincar com amigos é uma maneira de aprimorar suas habilidades sociais. Porém, brincar com os pais também é essencial para o processo de desenvolvimento emocional e psicológico da criança.

Se conselho fosse útil e eu pudesse dar algum para os pais, eu diria: brinque com seu filho. Independentemente do tipo de brinquedo que você dará às suas crianças, brinque com elas. Brincar é um modo de conectar-se com o filho, de conhecê-lo, e de valorizá-lo. Participe de uma perseguição a seres extraterrestres, leve soco na barriga numa luta intergaláctica, more com seu filho numa incrível caverna feita com lençol, enfim, libere a sua imaginação … E aproveite o Dia das Crianças tanto quanto elas. E nos outros dias do ano, continue considerando a brincadeira como uma coisa muito séria entre você e seu filho.

Este artigo foi publicado na Revista Estação Aeroporto nº 36, outubro de 2011, p. 82.

http://issuu.com/revista_estacaoaeroporto/docs/estacao_36_capa2

http://www.estacaoaeroporto.com.br/

João David C. Mendonça é Psicólogo, terapeuta de família. psocjd@gmail.com  www.twitter.com/psicojd

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