Crianças mentem na escola? Enquanto não sabem o significado da mentira, podem “inventar verdades”. Quanto menos amadurecidas forem, mais podem misturar fantasias com realidade, ou seja, contar algo como se fosse verdadeiro, mesmo que seja imaginado por elas.
Adultos usam essa confusão para conseguir que crianças pequeninas façam o que eles querem, mesmo que elas não queiram fazer. É o caso do Papai Noel. Se ela não for boazinha, não for dormir cedo, ou não obedecer aos adultos, pode receber uma ameaça mentirosa: “Papai Noel não vai lhe trazer presentes no Natal!”
Os adultos estão falseando a verdade de que Papai Noel não existe: eles tiram vantagens da ignorância das crianças para conseguirem obediência. Os adultos abusam da credulidade delas, que nem questionam a existência ou não do Papai Noel; o que querem é ganhar presentes.
Ninguém fala a um adolescente que, se ele for bonzinho, Papai Noel vai lhe colocar um presente na meia pendurada na lareira na noite que precede o Natal. Ele sabe o que é mentir e tira vantagens de quem acredita em suas mentiras. Seu cérebro está maduro o suficiente para não confundir o que pensou com o que de fato fez.
Algumas crianças não gostam de dizer que não sabem. Faz parte de suas vontades ser grande e ter todas as respostas. Não tem como dizer que são grandes, mas podem inventar respostas. Um reforço para estes desejos infantis, que não são tão infantis assim, são os agrados que recebem por saberem tanto, ou quando um adulto lhes diz o quanto elas cresceram… Aliás, isso continua assim em muitos adultos.
Não vale a pena brigar com as crianças, mas sim ensiná-las a falarem a verdade e não o que imaginaram. Não se poderia falar em mentira nesta idade. Nem afirmar que elas mentiram. Um professor cuidadoso deveria perguntar se o que o aluninho falou é imaginado ou acontecido de verdade. E ensinar o quanto é bom para todos saberem separar a imaginação da realidade.
Os professores podem usar um exemplo: Posso imaginar que estou voando como um passarinho, mas isso não é realidade. Na verdade, não posso voar, mas posso imaginar. Se eu acreditar que eu consigo voar, posso pular da janela e cair no chão e me machucar muito…
Se elas falam o que imaginaram como se fosse verdade e os adultos fingem que acreditam, esta reação pode reforçar a imaginação e chegar facilmente à mentira. A mentira geralmente tem um caráter defensivo, um receio de que a verdade possa lhe trazer uma rejeição ou uma agressão no lugar de agrado.
Quando um aluno mente, ele esquece que mentiu. Depois de um bom tempo, no dia seguinte, por exemplo, pode-se repetir a pergunta de uma maneira diferente, em tom normal, demonstrando querer saber mais do que desconfiando dele. Se for imaginação, o aluno geralmente esquece o que respondeu.
Um professor não pode afirmar que seu aluno mentiu sob o risco de ser atacado pelos pais. Pais não admitem que seus filhos mentem e muitos deles dizem textualmente: “Meu filho não mente!” Nem sempre eles acreditam nesta afirmação, mas querem defender o filho a qualquer custo.
Estes são os pais que serão vítimas do próprio filho, que passará a mentir para eles também. A mentira é um dos precursores das transgressões às normas de boa convivência para qualquer idade em qualquer ambiente.
Quando um professor percebe que um aluno está mentindo, o melhor a fazer é conversar com os pais da criança. Facilite o contato, seja por e-mail ou por telefone. Não precisa ser presencial. Os pais ficam geralmente apavorados quando chamados pela escola e chegam atacando para defender o filho.
Disponível em: http://www.tiba.com.br/artigo.php?id=035
Içami Tiba é psiquiatra e autor de 31 livros, dentre eles: “Quem Ama, Educa” e “Educação Familiar: Presente e Futuro”
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