Nos Círculos de Debates que os voluntários da Escola de Pais coordenam reunindo grupos de mães e pais nos mais diversos locais (escolas, igrejas, empresas, associações, etc.) a temática acerca dos “limites” (disciplina, regras, limite dos limites) é uma constante que acompanha praticamente todos os encontros (atualmente dez) e assuntos. Então, neste escrito me permiti parafrasear os textos que orientam os Círculos. Tanto, que os mais familiarizados com o tema até poderão me acusar de “plágio”. Em certo sentido não deixa de sê-lo, mas o faço pela relevância e a insistente atualidade que “o desafio de administrar os limites” tem.
Dois pratos de uma mesma balança
Na Escola de Pais o binômio que sempre acompanhou os diversos estudos, Seminários, artigos, Congressos e Revisões foram “amor e segurança”. Dois pratos de uma mesma balança que devem se manter em equilíbrio nas diversas circunstâncias da vida familiar, na relação com os filhos.
Se o “prato” em que está o amor pesar mais que o da segurança, corre-se o risco de criar delinquentes. E, se o “prato” em que está a segurança for o único considerado, cria-se paradoxalmente pessoas inseguras, arredias, tímidas e candidatas às psicoses depressivas.
Aí, então, instalam-se os DESAFIOS: “Meu Deus! O que faço para equilibrar estes dois pratos?! Em que circunstâncias devo demonstrar apenas amor? Posso amar e ao mesmo tempo disciplinar para gerar segurança? Quando disciplino deixo de amar? Quando digo “não” estou amando ou só disciplinando? Para amar devo sempre dizer “sim”? …”
Gerar segurança é disciplinar
Disciplinar, impor limites, regras claras, justas e coerentes, proporciona SEGURANÇA para os filhos. Sem limites, há insegurança e problemas emocionais acentuados para a criança e depois, o jovem. Estes terão forte tendência à delinquência e a serem insuportáveis nos diversos grupos que tentarem conviver: escola, amigos, igreja, parentes.
A falta de limites é encarada como algo negativo pela própria criança ou pelo próprio jovem, porque é sinônimo de falta de amor, de afeto.
Os Dois Extremos
A permissividade e o autoritarismo têm pelo menos uma raiz comum: a preguiça de exercer AUTORIDADE. Isto, porque, para ser autoridade – e não ser nem permissivo, nem autoritário – é preciso ser firme, coerente (dar o exemplo), amoroso, afetuoso e, sobretudo, saber DIALOGAR (ouvir e falar a seu tempo), a fim de explicar as regras com clareza e fundamento. Isto dá trabalho! Por isso, muitos optam pelo mais fácil: permitir tudo (“vá e não me encha!”) ou proibir tudo (“não, não e pronto. Eu é que mando!”) sem qualquer explicação.
O Filho-Centrismo e a Concordância entre os pais
Isto vale muito para os pais que moram juntos, que não se separaram. Muitos casais colocam os filhos antes de tudo, até mesmo antes deles próprios, da sua relação e sentimentos recíprocos. É um grande equívoco. Os próprios filhos devem perceber que os pais vêm em primeiro lugar. Que a relação deles interessa muito mais que a relação deles com os filhos; que a boa relação entre os pais tem como consequência lógica e natural, uma boa relação com os filhos; com a coerência na educação (o que o pai quer a mãe também quer e vice-versa).
Quando o filho se sente o centro das atenções (“o tal”), ele “reina” feito um tirano da casa.
É a segurança dos pais que transmite segurança aos filhos.
Conforme a idade
As crianças, até os dez anos de idade, devem saber o que esperar dos pais. Devem saber o que e porquê os pais querem delas, em relação à si próprias, aos pais, ao ambiente onde vivem e às demais pessoas com quem convivem.
Mas é preciso tratar criança como criança. Não se pode lidar com um adolescente de 16 anos da mesma forma que se lida com uma criança de seis. O tratamento é diferente.
Para a criança muito pequena, valem atitudes firmes, porém carinhosas. As atitudes são de cunho mais RESTRITIVO.
Quando elas ainda não entendem bem as ordens, é preciso desviar-lhes a atenção, como, por exemplo, quando querem mexer no ferro de passar roupa, ou nas panelas que estão no fogão, ou nos remédios, ou nos produtos de limpeza – devemos retirar o perigo da frente de sua atenção e entregar-lhes outros objetos seguros para brincar.
Quando elas já compreendem as ordens, devemos esclarecê-las, igualmente com firmeza e autoridade, mas sempre demonstrando que as amamos e queremos o melhor para elas.
Não se trata, portanto, de proibir tudo. Trata-se de ir dando forças para que eles possam “voar” sozinhos, tornando-se seguros e confiantes. Tornando-se aceitos pelos diversos grupos.
Os limites da Punição
Quando as regras e limites são bem estabelecidos, bem explicados e têm cabimento, no caso de os filhos as desobedecerem, devem ser PUNIDOS. Eles precisam saber que serão castigados, disciplinados, não para agirem sob o medo, mas por fidelidade, justiça e coerência dos pais. Não é unânime a opinião de que para as crianças o castigo pode incluir a PALMADA NA BUNDA. Alguns pais e educadores rejeitam com veemência este expediente. Outros ainda o acham necessário e salutar. Mas, para todos os de bom-senso: jamais o espancamento com ou sem raiva; jamais a humilhação da criança diante de seus amiguinhos, de parentes ou até mesmo de estranhos.
Enfim, é a época na vida da criança em que os pais seguram as rédeas procurando treinar e instruir seus filhos baseados nos valores morais e religiosos.
Os Limites na Adolescência
Consideramos entre os 11 e os 18 anos de idade.
A boa educação do adolescente é aquela que começa na infância. Mas jamais se deve ver o filho jovem como “um caso perdido”, pois haverá sempre tempo para evoluir para o melhor.
Neste tempo a educação (criação, formação, informação, orientação) é marcada pelo DIÁLOGO, para que as regras sejam lógicas e bem explicadas. Não se pode estabelecer limites que não tem lógica e nem razão de ser, de tal modo que, quando os pais percebem que estão errados (parcial ou totalmente), podem e devem voltar atrás e até desculpar-se se for o caso. Isto não significa jamais a perda da autoridade, nem da posição de superioridade hierárquica entre pais e filhos.
Não se pode mais agir como no passado. Hoje, são os pais que devem explicar, porque os jovens são mais bem informados e questionadores.
Para os adolescentes o castigo não é mais a palmada ou a vara que alguns ainda aplicam às crianças, nem tampouco o espancamento com ou sem raiva. Com os jovens pode-se negociar o castigo, em geral, retirando algum privilégio, como, por exemplo: festa, casa de amigos, jogo, cinema, teatro, internet, telefone, etc., por algum tempo, dependendo da gravidade da falta. Jamais a humilhação do jovem diante de seus amigos, de parentes ou até mesmo de estranhos.
Conclusão
Os pais não devem ter receio de estabelecer limites e regras aos filhos, com o medo de que eles deixem de amá-los. Pelo contrário, disciplinando-os com firmeza, autoridade, justiça e afeto, os pais estarão conquistando ainda mais o amor e a confiança dos filhos. E, o que é muito importante, estarão gerando segurança e equilíbrio emocional. Seus filhos enfrentarão melhor a vida e os diversos grupos em que vão conviver.
Se em sua casa os filhos estão sempre “perdendo”, sendo só disciplinados; ou se estão sempre “vencendo”, sendo apenas “amados”, recebendo tudo o que desejarem (e não só o que efetivamente precisam) comece a procurar ajuda. Sem carinho e autoridade, pais e filhos acabam perdendo o rumo. E nosso país não pode mais suportar isso. Ele precisa de mais escolas e mais colo inteligente e amoroso. Porque a escola mais importante e o colo mais gostoso ainda estão em casa!
Este artigo foi publicado na Revista Programa – junho de 2011, p. 9, do 48º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, realizado de 23 a 25 de junho de 2011, em São Paulo – SP.
João Batista Athanásio – é membro da Escola de Pais do Brasil, Seccional de Curitiba, PR. Professor nas áreas de Filosofia, Psicologia e Direito. Advogado especialista em Direito de Família. jbathanasio@ig.com.br.
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