O ACOLHIMENTO COMO FIO CONDUTOR NOS PRÓXIMOS ANOS DE “NOVO NORMAL”

 “A missanga, todos a veem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo”…

Mia Couto escreve no livro: o fio das missangas

Essa ideia de pensar o fio que ninguém enxerga, me encanta, ao ler esse conto de Mia Couto, teci pensamentos na nossa Educação atual, pontos na Escola, nos professores e nos nossos desafios em tempos de Pandemia.

O momento atual em que estamos todos imersos, tem me provocado uma ambivalência de sentimentos, passo do amor à indignação em questão de segundos e logo me lembro de uma certeza que me sustenta: SOMOS OS FIOS (muitas vezes invisíveis) que tece e tecerá as novas gerações e garantirá o nosso patrimônio cultural e simbólico. Um compromisso que assumimos ao ter filhos.

O fio, ainda é ponto visível de acolhimento de famílias, professores e estudantes, é nesse espaço aberto de diálogo e acolhimento (mesmo que virtual) que a Escola de Pais do Brasil vem tecendo palavras e encontros, nesses tempos de pandemia. Ponto a ponto, vamos nos mantendo afetivos, firmes em nossos propósitos e costurando o tempo de pandemia ao horizonte (pós-pandemia).

O acolhimento é o que nos permite continuar, retornar, avançar e ponto a ponto construir um “novo” TEAR, chamado Vida. 

Esse momento “estranho” exige desatar alguns nós, da noite para o dia nos tornamos verdadeiros avatares, estamos sendo desafiados diariamente ao grandes nós, como o fechamento das Escolas, o afastamento das famílias, o recolhimento das nossas rotinas… Aos poucos e com muita resiliência, vamos aprendendo novas formas de costuras jamais experimentadas nos últimos cem anos.

Da noite para o dia incorporamos as tecnologias em nossos espaços, onde o familiar e profissional se entrelaçam costurando o mundo real e virtual, estamos vivendo e convivendo em tempo real com plataformas de urgências ligando passado e futuro. Será esse o “NOVO NORMAL” um novo tempo que pede calma como canta Lenine na canção Paciência.

“…Enquanto todo mundo espera a cura do mal, E a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência… Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma… Eu sei, a vida não para… O Tempo não para.

O tempo é o nosso compromisso com o horizonte geracional que nos pede um pouco mais de calma…a vida não para…

Tecer esse movimento de volta, é nossa essência ora no silêncio, ora na escuta, ora no front! Essa será a grande costura do século: Vivermos um dia de cada vez, apesar dos pesares, tecer ponto a ponto, aprender a se demorar onde exige mais necessidade, ali onde os nós se fazem tão presentes.

Sensibilizar-se não é algo muito comum em tempos atuais, onde em um instante, em uma pausa, nosso percurso traçado é paralisado, enquanto bares e festas clandestinas correm soltas! Mas isso, já estava posto nos valores que acabam sendo negociados, não serão os nossos, jamais.

O tempo não para e nós da Escolas de Pais do Brasil também não paramos e lembrem-se: O Afeto salva, ele acontece em todo lugar e espaço, no intervalo do tempo e também na espera.

Enquanto vivermos, é nesse TEAR que queremos estar e atuar.

O Acolhimento, continua sendo o ponto de encontro, o ponto que nos costurará nos próximos anos. Acolher e Escutar serão ferramentas essenciais para o mundo atual, onde excessos e rupturas se fazem tão presentes.

Então, caros amigos e caras amigas, continuemos no tecer, na importância do FIO, esse fio que nos torna cada vez mais humanos, reflexivos e atentos a si mesmo e ao outro, esse fio que tece e aproxima nossas inteligências (emocional e cognitiva), esse fio invisível que vem nos sustentando e contornando os nós vividos nesse ano de 2020 e início de 2021.

Acreditem, nenhuma ponta ficará solta, teceremos sem cessar, costurando “missangas” e assim nenhuma delas ficará de fora e invisível. O momento é de aprender a aprender, tecer e tecer, a cada ponto, um novo arremate a ser experimentado e marcado nesse tecido chamado VIDA, onde estamos todos entrecruzadoscom o tempo, com os espaços, casas, escolas, gerações, desafios, fases da infância, adolescência e vida adulta, todos entrelaçados FIO a FIO.

E assim seguimos… costurando e entrelaçando MISSANGAS sustentadas por fios antes invisíveis e hoje visíveis para quem está disposto A VER!

Jane Patrícia Haddad – Mestre em Educação Docente do Ensino Superior. Psicanalista e Psicopedagoga – www.janehaddad.com

Publicado na Revista do 57 Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, Edição 2021, p. 13.

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