Máscaras de oxigênio

Em caso de despressurização da cabine, máscarasdeoxigênio cairão automaticamente à sua frente. Coloque primeiro a sua e só então auxilie quem estiver ao seulado”. Esta é a fala dos (as) comissários (as) de bordo nas aeronaves antes de decolar.

Eis uma dica que pode servir para a nossa vida em vários sentidos: nos primeiros socorros, sempre há a prática de se cuidar primeiro para só então poder auxiliar o próximo. Como posso ajudar o outro se não estou bem? Ambos correm risco, não haverá o cuidado adequado, pois não há saúde emocional adequada. Nós, adultos, somos um exemplo muito grande para as crianças e os adolescentes. Nossas atitudes falam muito mais que qualquer palavra, eles observam e sentem quando não estamos bem. Por isso a importância de sermos sinceros conosco, procurar ajuda. Isto reflete na qualidade do relacionamento com o próximo.

O exemplo da máscara de oxigênio nos remete, ainda, para situações de perigo, problema, estresse e conflito. Nesses momentos, é importante respirar profundamente. Isso ajuda, principalmente, na oxigenação do cérebro, renova a mente e traz novas ideias, facilitando as nossas relações. Mas todos os extremos são prejudiciais. Algo está acontecendo hoje, levando muitos ao mundo narcisista, “self”, onde cuidamos somente de nós mesmos e nos esquecemos de cuidar de quem está ao nosso redor. O importante é ter equilíbrio no cuidar e ser cuidado.

Por outro lado, há crianças e adolescentes “andando com máscaras de oxigênio”. O cuidado extremo, ou seja, a superproteção, não deixa de ser um tipo de violência, pois não permite a autonomia das crianças e dos adolescentes, tornando-os pessoas com baixa resiliência por não saberem lidar com frustrações, com o “não”. Lembrando que a superproteção não educa, gera insegurança e dependência, trazendo danos e traumas como qualquer outro tipo de abuso. Isso ocorre por não haver segurança adequada e oportunidade de criar bases fortes de um lugar seguro, deixando as pessoas mais vulneráveis nas situações da vida, não sabendo lidar com as dificuldades e os problemas de forma independente e autônoma.

As crianças também precisam entender que, ao longo da vida, é normal se decepcionar. É importante receber pequenas doses de frustração desde a infância”, explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP). É importante que a criança vivencie “choques de realidade”, tenha limites (para sua segurança e ordem). 

A frustração é o sentimento decorrente da não realização de um desejo ou tendência, ou seja, é a reação diante da expectativa não correspondida. Já a decepção sempre vem de pessoas que você gosta, onde há relacionamentos afetivos, e não do “inimigo”, atingindo a inteligência intelectual, emocional e sistêmica. Ocorre, então, a cegueira emocional, a ilusão gerando a dor. Nesse processo, aprender a esperar é importante, tenha certeza de que seu “não” na hora certa vai propiciar mais benefícios do que perdas.

Nas relações, o importante é deixarmos marcas positivas e ainda sermos marcados. É nas trocas de experiências que ocorre o aprendizado e, principalmente, nos momentos de escuta de crianças, adolescentes, familiares, cuidadores e profissionais. É de extrema importância “cuidar dos que cuidam”. O estresse profissional é muito grande, refletindo no trabalho do dia a dia, afetando o rendimento do trabalho com as crianças e os adolescentes. É necessário que os “cuidadores” saibam construir um lugar seguro com suas próprias demandas pessoais e profissionais, melhorando o clima organizacional.

A família pode ser, portanto, como vimos até agora, um fator de proteção como também um fator de risco. O papel da família ou da parentalidade é um conjunto de atividades para ajudar no desenvolvimento. A conexão é importante para o desenvolvimento do ser humano. Na educação de sucesso, lembro as palavras de Mário Quintana: “O segredo não é correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham, até você”.

A manutenção da resiliência é constante sabendo que todo ser humano é capaz de enfrentar, superar e sair fortalecido das adversidades, amar e cuidar de si mesmo, reconhecer e desenvolver os seus próprios talentos, procurar ajudar quando necessário, confiar no outro, crescer de maneira ativa, criativa e otimista até que a morte nos separe desta vida, tendo sempre “máscaras de oxigênio” próximas para quando precisarmos.

Regina Rempel – Assistente social, fundadora do Instituto Construindo um Lugar Seguro e associada EPB Seccional Curitiba/PR. E-mail: contato@lugarseguro.org

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