Recebi com muita alegria a tarefa de discorrer sobre limites e valores na família. Confesso que, no começo, achei que seria fácil. No entanto, o que parecia simples, após muita reflexão sobre o que vem ocorrendo no mundo, na verdade tornou-se complexo.
Este assunto é de tamanha relevância e primordial para o contexto social que a Constituição Federal Brasileira estabeleceu no seu artigo 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. A partir deste artigo seguem-se vários temas afins na própria Carta Magna e legislação em geral.
Em wikipédia – pt.wikipedia.org/wiki/Família, encontra-se descrito um conceito de família que consideramos importante destacar:
“Uma família tradicional é normalmente formada por um homem e uma mulher, unidos por matrimônio ou união de fato; os filhos que vierem a existir compõem uma família nuclear ou elementar… Família substituta é aquela nascida dos institutos jurídicos da guarda, tutela e adoção.”
Há problemas sérios no interior das famílias e, por conseguinte, na sociedade atual. Nos dias que seguem, conceitos e valores supremos estão sendo vilipendiados. Já não sabemos para onde caminha a boa ética e isso tem afetado profundamente o ambiente familiar.
O sociólogo francês Émile Durkheim defendia a superioridade da sociedade sobre o indivíduo e do Estado sobre a instituição da família. “O ser humano precisa se sentir seguro; uma sociedade sem regras claras e sem valores pode levá-lo ao desespero”.
Observa-se que o sociólogo fala em “regras claras e valores”. É isso que estabelece a ordem, a disciplina, os limites e, enfim, a própria harmonia do relacionamento, não somente no âmbito da família mas em qualquer instituição.
Paulo Freire destaca: “A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a ‘tirania da liberdade’ em que as crianças podem tudo: gritam, riscam paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade”. É lógico que normas de convivência devem se estender aos demais integrantes do grupo familiar.
Além do amor, união, disciplina e limites, a família e a sociedade necessitam de mais integração e mais diálogo, o que tem sido totalmente prejudicado em razão do imediatismo de como tudo acontece nos dias atuais.
Vou me valer dos ensinamentos do professor e filósofo Mário Sérgio Cortella que critica este mundo do imediato onde tudo precisa ser instantâneo, do macarrão às relações afetivas. Ele defende o que chama de “pamonhalização”, representação do resgate da convivência familiar. Diz que fazer pamonha leva horas. São necessárias várias fases para que o alimento fique pronto. Em todo processo, pessoas da família se sentam em volta e ficam conversando, trocando ideias. Há um longo trabalho e uma distribuição de tarefas. Em todo este procedimento, são horas de convivência antes da satisfação de saborear o alimento.
Hoje, há uma preferência por atitudes que permitem comer, dirigir, escutar música e conversar com os filhos, tudo ao mesmo tempo. É preciso resgatar os dias em que haviam ritos e a solene degustação da convivência.
Basta refletir que, antes mesmo do consumo da satisfação de um simples desejo existe um caminho que, na maioria das vezes, o processo para atingir o objetivo é até bem mais importante do que a sua consolidação. Como descrito na obra “O Pequeno Príncipe” do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, no diálogo do principezinho com a raposa:
“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração… É preciso que haja um ritual”… “Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos…”.
O Papa Francisco, durante tradicional oração do Ângelus na Praça de São Pedro ressaltou três palavras-chave para viver em paz e alegria em família: “com licença, obrigado e desculpa”.
Sempre é necessário pensarmos sobre o termo “voltar pra casa”. Como é bom sentir-se feliz na hora de voltar pra casa.
Portanto, não deixemos que pereçam as nossas esperanças. Continuemos a acreditar na família com extensão à escola e à igreja. Estas instituições têm um grande papel para a formação do caráter e para a constituição de uma sociedade mais próspera e feliz.
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Biguaçu e São José, nº 5, junho de 2014, p. 29.
Mário Cezar Simas – Secretário de Governo e Coordenador do Programa Droga Zero em Biguaçu
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