Não bastasse os inúmeros desafios que a Família tem enfrentado quanto aos vários problemas que a afligem no seu cotidiano, como por exemplo, a desarmonia conjugal, a falta de diálogo, o alto índice de desemprego, a violência em geral, dificuldades de aplicação de limites, o materialismo onde mais vale o ter do que o ser, o consumismo fazendo com que tudo se torne descartável, a falta de Deus nos lares, uma competição desenfreada não permitindo a solidariedade acontecer na prática, o uso e tráfico de drogas bastante exagerado em todas as camadas da sociedade, etc., surge nesse contexto, mais uma péssima notícia que, com certeza, é mais um grande desafio que a Família tem que administrar e solucionar.
No mês de abril desse ano, foi divulgada uma notícia no jornal “O POPULAR”, um dos veículos de comunicação do Estado de Goiás, sobre uma apreensão de droga feita pelos agentes da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos – DENARC, na capital goiana.
Até aí, infelizmente, mais uma notícia que já está se transformando em rotina. Mas, essa notícia tem ainda um caráter mais devastador do que possamos imaginar. Afinal de contas, não foi mais uma simples apreensão de cocaína, crack, etc., mas sim, de uma nova modalidade de droga, chamada de Oxi ou Oxidado. Nova, até então, para quem reside no Estado de Goiás. Pois, pelo que se sabe, ela foi descoberta entre os anos de 2003 e 2004, sendo usada por pessoas nas cidades do Estado do Acre que fazem fronteiras com a Bolívia, possuindo um efeito mais letal do que o crack.
Diante disso, uma de nossas grandes preocupações como pais e agentes educadores, diz respeito à disseminação do uso e tráfico do Oxi.
Sabemos que essa preocupação se justifica, uma vez que a Escola de Pais do Brasil tem atuado principalmente na prevenção ao longo desses anos de sua existência. Prova disso, que além de várias outras atividades desenvolvidas visando atingir esse objetivo, a Seccional de Goiânia realizou no mês de abril do ano de 2005 um Seminário exclusivo para tratar do assunto, com o tema “Drogas: como agir?”. Onde foram realizadas palestras com debates e a edição de uma revista específica, visando formar, informar e principalmente, conscientizar os participantes das responsabilidades de todos nós frente a esse imenso problema que a Família sempre enfrentou.
Nossa preocupação com essa possibilidade real de disseminação do uso e tráfico do Oxi para um contingente maior de pessoas, é porque ele é mais barato, comparado ao crack, uma das drogas mais vendidas e usadas atualmente. Enquanto uma pedra de crack custa R$ 10,00, a pedra de Oxi custa em média R$ 5,00 nas cidades das regiões norte e sudeste, onde o processo de sua disseminação já está em andamento.
Por que o preço do Oxi é mais barato do que o crack? Uma das explicações está na sua composição química. Ambos são derivados da cocaína. O crack é uma mistura de cloridrato de cocaína com bicarbonato de sódio e amoníaco. Já o Oxi é obtido através da mistura do cloridrato de cocaína com querosene e cal virgem. Daí, o seu alto poder letal.
Como o crack e o Oxi atuam no organismo dos seus usuários? O crack ataca o estômago, enquanto que o Oxi age diretamente no fígado de suas vítimas. As duas drogas provocam perturbações no sistema nervoso central, geralmente causando um estado de paranóia na maioria de seus usuários. Outras consequências são o rápido emagrecimento, dores de cabeça, náuseas, vômitos e diarréia. A cor da pele dos usuários de Oxi fica esverdeada, devido aos problemas hepáticos.
Ambos são vendidos em forma de pedra. Ao serem fumadas através de cachimbos, provocam um efeito alucinógeno, que dura em média cerca de quinze minutos, mesmo tempo de consumo da pedra. O chamado efeito rebote, que acontece após alguns minutos de consumo, é maior no Oxi do que em outras drogas. Seu usuário fica “enlouquecido”, com vontade de fumar mais droga. Aí reside o maior perigo pois, nesse momento, ele é capaz de tomar qualquer atitude para obtê-la. Dessas atitudes muitas vezes incontroláveis, é que ficamos sujeitos aos altos índices de violências e criminalidades.
Por último, o cheiro é uma das formas de sabermos diferenciar as drogas. Nesse sentido, o odor de combustível do Oxi pode ser percebido de longe.
Diante desse contexto, pode-se constatar que a existência dessa gama variada de drogas disponíveis, o intenso consumo e tráfico das mesmas, continua sendo atualmente um dos maiores desafios que a Família tem que saber enfrentar. Para isso, ainda é importantíssima a informação, a formação e a conscientização das Famílias. Não deixar que as drogas venham contribuir para o desmoronamento da estrutura familiar, tem que ser uma prioridade de todos nós.
Para que possamos ser verdadeiros cidadãos e ajudar na formação de outras pessoas, a Família tem que ser bem-estruturada e equilibrada. O palestrante e escritor Robert Wong, na sua obra “O sucesso está no equilíbrio”, afirma que o mundo moderno está em desequilíbrio. Isso acontece nos relacionamentos inter-pessoais, nos desastres ecológicos e fenômenos naturais, no aumento das doenças e epidemias, nas mentiras deslavadas das mesmas pessoas que deveriam ser nossos modelos de probidade, na escalada de crimes e violência urbana, dentre outros. E podemos afirmar, também, na disseminação do uso e tráfico de drogas. Mas, como obtermos o equilíbrio?
Para ele, tudo que é demais (ou de menos) leva ao exagero e ao desequilíbrio. Assim, devemos ser consciente para viver a vida em plenitude. Quando nos incluímos conscientemente no mundo, ampliamos o autoconhecimento. Diante de um desafio, tornamos parte consciente da busca da solução. Percebemos uma nova oportunidade, em vez de deixar a situação virar um problema.
Nesse aspecto, confirma-se que a Família tem que agir com muita sabedoria. Robert Wong acredita que a sabedoria é fruto do conhecimento e da experiência. O conhecimento é obtido através da informação, seletivamente internalizada pelas pessoas. Já a experiência, advém de um evento transformado em uma lição de vida. Ela não é o que acontece a uma pessoa, mas sim o que ela faz com o lhe acontece. O conhecimento é a teoria, enquanto que a experiência é a prática. Assim, agir com sabedoria, é o mesmo que nos colocarmos de corpo inteiro, intenções e ações – teoria e prática, no fluxo do mundo em que vivemos. Devemos combinar a plenitude da intuição, com imaginação e criatividade, visando construir um novo mundo a partir da nossa realidade, assumindo a tão sonhada plenitude humana.
Acreditar e ter esperança na máxima cristã, “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”, é fundamental para assumirmos o desafio de sempre combater essa cultura de morte que as drogas trazem para a Família. Não podemos deixar que os nossos sonhos de ter uma sociedade justa, equilibrada e feliz não se concretizem. Portanto, como já dizia o poeta/cantor, tenham fé em Deus e tenham fé na vida, pois nem tudo está perdido. Tente outra vez. O que importa é sermos felizes!!!
Este artigo foi publicado na Revista Programa – junho de 2011, p. 35, do 48º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil, realizado de 23 a 25 de junho de 2011, em São Paulo – SP.
Miguel Rosa dos Santos e Marinaide Tinoco de Sousa Santos – Casal Representante Nacional da Escola de Pais do Brasil dos Estados do Acre, Goiás e Rondônia
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