FAMÍLIA: ponto de mutação educação para a cidadania

Quando analisamos a situação nacional, observamos alguns aspectos que saltam aos olhos: a aparente desagregação da nossa tão jovem democracia, o corporativismo crescente de políticos, juízes e de diversas categorias profissionais, o desprezo pela lei, a influência das quadrilhas tanto no topo quanto na base da pirâmide social, o desvio de recursos públicos em todas as esferas de governo, com participação das mais altas autoridades, que na verdade não passam de bandidos. A tendência de muitos de nós tem sido para o desânimo e o pessimismo.

Muitos se perguntam: será que existe solução? Será que ainda veremos o fim de tantos desacertos em nosso país? Muitos desistem de apoiar os valores democráticos: eleições livres, respeito pela lei, funcionamento normal do congresso e do judiciário. Passamos a observar pessoas, que se dizem democráticas, apoiando soluções radicais e até o retorno ao regime militar. Candidatos de extrema direita, pela primeira vez, têm vez no panorama político brasileiro. Em suma, parece que estamos no início de uma fase de caos.

Por outro lado, forçoso é reconhecer que os problemas que vivenciamos não estão fora de nós. Estão na verdade dentro de nós. Estamos imersos numa cultura que estimula a prática de ilícitos, onde muitos ainda acham possível cometer “malfeitos” e permanecer impunes. Tempos atrás, houve até a criação popular de uma “lei”, a famosa “lei de Gerson”, pela qual tornava-se até engraçado levar vantagem em tudo.

Existe solução para tudo isso? Em primeiro lugar, cabe uma reflexão: queremos realmente uma solução? Quando vemos cenas deploráveis, como, por exemplo, o saque de caminhões tombados em estradas, não por marginais, mas por pessoas “respeitáveis” em seus carros de passeio, que param os veículos e se aproveitam da situação, chegamos a ter dúvidas sobre se a sociedade quer realmente que isso mude. Mas, apesar disso, fazendo um exercício de otimismo, queremos acreditar na boa índole do nosso povo, e isto é reforçado pelo grau de indignação que temos visto e ouvido com relação aos crimes de poderosos que têm sido revelados.

Outra reflexão nos leva a uma conclusão, talvez não tão evidente: não é através de instituições oficiais que as coisas tomarão um rumo adequado. Essas instituições, muitas vezes, estão viciadas. Torna-se difícil acreditar nelas. Quando falamos, por exemplo, que a solução para o país é a educação, pergunta-se: que educação é essa?

Quem educará as novas gerações? A educação para uma vida ética estará incluída nos planos dos educadores?

Aí é que emerge, de forma inequívoca, o papel da família, como a luz que brilha nas trevas. Não existe outra via, a não ser o processo educacional começar e se apoiar fortemente na família. Esta é a verdadeira célula do organismo social. É através dela que poderá ocorrer a mutação que a nossa sociedade exige. É nela que podemos começar o ensinamento da verdadeira cidadania, aquela que possibilitará superar todas essas mazelas que afloram em nossa sociedade.

Mas antes, é claro, temos que reformar a nós mesmos, e evitar dar o mau exemplo a nossos filhos. Para serem cidadãos responsáveis, nossos filhos têm que aprender a contribuir para a paz social, através de práticas honestas e que evitem os privilégios para poucos, como acontece atualmente. Precisam aprender a praticar a solidariedade acima de tudo, a fazer todo o possível para a redução das desigualdades, talvez o maior mal deste país.

Aí, talvez, após anos e talvez décadas, poderemos ver os resultados positivos na transformação desta nação.

Renato Falcão de Almeida Souza. Engenheiro civil, auditor fiscal aposentado, pós-graduando em filosofia, contista, e, juntamente com Thelma, membro da Escola de Pais Seccional Salvador

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Revista do Congresso, SP, junho de 2018, p. 20-21.

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