A cada ano que termina, a maioria das pessoas tem o desejo de fazer uma lista de resoluções ou comportamentos que deverá cumprir no ano que inicia. Vai ano, vem ano, e muitas pessoas repetem suas resoluções na tentativa de fazer algo novo, de mudar algumas coisas de sua rotina, assim como, “fazer ginástica”, “parar de fumar”, “ser mais tolerante”, “sair mais vezes para jantar”, “ler mais livros”, “pedir aumento”, “comer verduras”, “não deixar louça suja na pia”, “responder os e-mails no mesmo dia”, “começar uma dieta (e terminá-la)”, entre outras.
Os desejos são parecidos para muitas pessoas, e, geralmente, muito amplos. Quando o objetivo é extremamente generalista, fica difícil de cumpri-lo. “Ler mais livros”, por exemplo, é muito inespecífico. Seria melhor pensar “escolher um livro interessante e ler pelo menos três páginas por dia”. Para conseguir uma mudança de comportamento, nem sempre é possível adotar uma atitude radical. Às vezes é preciso ir degrau por degrau, como disse Clarice Lispector, “mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.”
A maioria das pessoas sempre tem novas ideias para implantar em sua vida. Mas, poucos colocam em primeiro lugar uma resolução que envolva as relações mais preciosas, a nossa família, os nossos filhos? Pense em um momento lindo em sua vida. Com certeza tem alguém junto com você neste momento. O que gratifica o ser humano são os relacionamentos, o afeto dado e recebido. É isso que nos faz felizes. E a relação entre pais e filhos é o motor principal para o desenvolvimento de uma criança e um adolescente saudável, feliz. Nós carregamos os aprendizados que tivemos com a nossa família durante toda a nossa vida. Pais sempre serão pais até o fim de suas vidas, mas os filhos não são sua propriedade. Devemos lembrar sempre que os filhos devem ser educados para a vida.
A infância passa muito rapidamente. Um dia, estamos lá no consultório do obstetra ouvindo aquele coraçãozinho bater, no outro dia os filhos estão indo para a escola, mais um pouco e estaremos recebendo um rapaz esquisito falando “aí, tia”, que levará nossa menininha para sair e, logo, logo, os filhos estão saindo de baixo de nossas asas e literalmente dirigindo suas vidas (e nossos carros). Estarão vivendo e enfrentando as dificuldades com suas forças.
Não há como protegê-los por completo. Não é possível poupar-lhes todas as dificuldades. Não podemos prevenir todos os problemas. No entanto, tanto mais eles serão mais resilientes e, portanto, mais aptos a enfrentar as adversidades da vida, quanto mais segurança, afeto e regras clara tiverem recebido em sua infância e adolescência.
Nossas resoluções de vida sempre deveriam incluir um envolvimento mais efetivo com a família. É preciso decidir colocar a família em prioridade. Desta forma, você poderá dizer ao seu chefe que na 3ª. feira não pode fazer hora extra pois é o dia de levar o seu filho para jogar basquete. A louça do jantar pode esperar até o dia seguinte se a sua filha, que não te viu o dia inteiro, quiser brincar de boneca com você. Aquele futebol do domingo pode ficar para a próxima semana se o seu filho tiver a apresentação de final de ano da escolinha, onde você provavelmente só vai ver a sua cabeça no final da última fila, mas ele saberá que você está lá assistindo. Em vez de gritar, mais uma vez, com seus filhos sobre a bagunça da sala e “o que as pessoas vão dizer se encontrarem a casa desarrumada”, que tal nessas férias, ajudar seus filhos a construir uma barraca com cobertores bem no meio da sala? Você bem pode deixar de lado, às vezes, o seu programa favorito na televisão, simplesmente para ficar com a sua filha na varanda e soltar bolhas de sabão em uma noite estrelada…
São essas pequenas coisas, esses momentos abençoados por termos uma família, que dão sentido à vida. Vai chegar um tempo em que a sala sempre estará arrumada, não haverá mais brinquedos espalhados pela casa ou farelos de bolacha embaixo dos sofás. Aí você sentirá saudades. Então aproveite agora! Assim, quando seus filhos estiverem indo embora e vivendo suas vidas, terão dentro de si momentos doces, intensos, sentirão a família como um porto-seguro, um colo acolhedor para onde sempre terão o desejo de voltar e um modelo para criar os próprios filhos.
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Biguaçu e São José, nº 5, junho de 2014, p. 46.
Lídia Weber – Pós-Doutora em Psicologia, Professora da UFPR, autora, entre outros, do livro “Eduque com carinho” (Juruá)
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