Há um certo tempo observamos alavancadas as discussões em torno dos papéis de instituições como a família e a escola. Ambas reconhecidas como espaços constituintes do desenvolvimento humano e fundamentais à formação integral do sujeito e de sua cidadania.
A família por sua vez tem destacada suas modificações e configurações em diferentes arranjos e maneiras de ser e viver em família, onde o afeto e as relações de cuidado se sobressaem ao parentesco e a consanguinidade. As últimas décadas demonstram essa polivalência e expressam a complexidade das relações familiares como fruto das transformações sociais ao longo da história. Há, portanto, um deslocamento de lugares e funções de cada sujeito no seu universo familiar, e uma busca em reconhecer o lugar da criança e do adolescente.
Na sociedade, a cada desdobramento histórico, reconhecemos a construção do lugar da infância e da adolescência sob uma nova ótica. Seu protagonismo, sua ousadia, sua capacidade de comunicação e interação, sua indisciplina, sua insatisfação crescente, seu questionamento aos valores da família, a busca pelo reconhecimento e o distanciamento físico e moral do universo familiar. Tudo ao mesmo tempo! Nos questionamos: o que há com essas gerações? Por que as coisas não seguem o curso seguro (pelo menos assim nos parecia) da nossa própria experiência infantil e adolescente? Há quem diga que é culpa do tempo, que a família não é a mesma, que os amigos são estranhos e que a escola não educa como deveria.
De fato, as transformações culturais e sociais demandam novos olhares e nos desafiam na compreensão desse lugar que a família ocupa na vida dos filhos e na sociedade. Cortella (2017) alerta para as urgências e turbulências que envolvem a família e reitera responsabilidade do mundo adulto com as crianças e jovens, assim como consigo mesmo, haja vista que toda mediação e orientação nasce daquilo que somos e acreditamos.
É evidente a incapacidade de equilibrar os papéis e fortalecer o lugar dos sujeitos no contexto familiar. Sob a máxima da amizade com os filhos, pais confundem espaço de diálogo e orientação com camaradagem e protagonizam atuações negligentes e permissivas. É fato, há um desequilíbrio e uma dificuldade em harmonizar as relações, no entanto, diante de tamanha dúvida, o berço para o recomeço sempre será a ética, a exigência e a responsabilidade.
Postos em pauta os valores, entendemos que há que se cultivar experiências e diálogos na família que a reconheçam como tal e, deem a este lugar, tempo e espaço, a sobriedade consciente da permanência. Família é o que somos, é o vivido, nossas histórias e memórias. Decerto, perceber a família como um valor e construir laços responsáveis e coerentes, é certamente um desafio em tempos líquidos.
Em face ao cenário posto, os pais ou responsáveis precisam fazer-se “pais, figuras responsáveis”, ou estará ainda mais evidente a fragilidade que opera o desencontro da família. Filhos, são filhos e como tais precisam ser reconhecidos na sua individualidade, respeitados nas suas posições, mas sempre orientados e guiados.
Quando ouvimos discursos como: O que eu faço com este menino? Ele se “manda” ou “larguei”, ele não me ouve! – Percebemos a angústia e o colapso que se anuncia na família. Logo, aos adultos cabe a retomada da sua responsabilidade, mesmo em tempos de convivência rarefeita, onde as demandas do trabalho ocupam o maior tempo das famílias.
A responsabilidade dos pais exige uma ordenação, uma hierarquização a ser reconhecida na família, posto que aos adultos cabe maior conhecimento, compreensão e capacidade de decisão. Amorosidade, lealdade, integridade, disciplina, honestidade e esforço são inegociáveis quando se quer contribuir na formação saudável, cidadã e justa das novas gerações. Esse é o papel da família e da escola.
Nessa parceria, à escola cabe a promoção das aprendizagens através dos programas, currículos, metodologias e profissionais desenvolvendo as habilidades cognitivas e sociais das crianças e adolescentes. Ademais, esta atua como espaço e tempo de produção e elaboração de culturas, de elaboração/ reelaboração de saberes e conhecimentos e promoção de sujeitos pautados em valores humanizadores.
Nesse sentido, advoga-se em favor da parceria entre a família e a escola, da manutenção dos diálogos, da franqueza e da transparência, mas principalmente da responsabilidade que é dada a cada uma das instituições.
É fundamental que a escola e a família estejam alinhadas no campo da ética e do afeto, que ambas atuem com rigor amoroso e científico na formação e promoção das crianças e adolescentes, buscando equilibrar a experiência acadêmica à amorosidade que humaniza, como oportunidade de formação integral. Esse por ora, nos parece o melhor caminho!
Marcia Maria Rosa – Diretora do Colégio Marista São Francisco/ Chapecó/SC – Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Educação.
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Chapecó, nº 24/2018, p. 27-28.
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