
Educar um filho para que seja capaz de assumir com responsabilidades seus projetos de vida parece uma tarefa fácil, mas não é! Enganam-se os pais que entendem que basta trazer ao mundo uma criança e as fases de desenvolvimento desta serão vencidas com tranquilidade.
Buscar dar uma infância ao filho onde possa existir um equilíbrio entre a saúde física e a saúde emocional, sempre acarreta o exercício da resiliência e práticas afetivas.
Cabe salientar de início que os pais são os principais referenciais de valores a seus filhos e têm a séria responsabilidade de trocar afetos, definir limites e garantir uma educação plena, que lhes dê condições para que se tornem verdadeiros cidadãos.
Encontrar o ponto de equilíbrio entre o que desejam os filhos e o que entendem os pais como sendo o melhor para a formação destes representa um dos pontos nevrálgicos na educação.
Este é o maior desafio na arte de educar: encontrar o ponto de equilíbrio entre desejo X necessidade, no longo processo que se desenrola entre o nascimento e a independentização de um filho.
E nesse processo as omissões têm sérias consequências.
Pais omissos tendem a garantir facilidades e permitir excessos frente aos desejos dos filhos, levando-os a entender que tudo é possível e permissível e se vendo como o centro das atenções (infantolatria).
As estatísticas dos últimos 15 anos no Brasil, trazidas por Institutos de Pesquisa diversos têm revelado que houve um aumento significativo nos transtornos emocionais em crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, os quais por vezes culminam em suicídios.
O uso excessivo das tecnologias nos lares tem gerado um silencio nocivo entre pais e filhos e entre o próprio casal. Ou seja, os pais, ao facilitarem o acesso e permitirem excessos no uso de tecnologias (eles próprios se excedendo, inclusive) acabam, sem se dar conta, por promover um afastamento emocional de seus filhos no momento mais crucial da sua formação.
Este abandono afetivo que ocorre no silêncio das relações intrafamiliares tem gerado cada vez mais a sensação de solidão entre crianças e adolescentes, posto que o diálogo e as trocas afetivas têm sido substituídos por um estado de não comunicação, colocando em cheque o real sentido da família.
Muito tempo na frente de computadores para jogos e/ou celulares em redes sociais, tem contribuído para um aumento nos índices de incidência de Transtornos do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH e elevado o sentimento de vida sem sentido e inadequação.
Há que se destacar, também, que muitos pais hoje têm tentado se desincumbir da tarefa de educar “terceirizando” suas funções, transferindo para outros atores (babás, escola) a sublime tarefa de “cuidar”, “acalentar”, “orientar” e até “amar”. Como pensar numa infância saudável do ponto de vista físico e emocional frente a estes contextos?
Na busca desenfreada dos pais em “compensar” suas ausências nos momentos cotidianos de trocas afetivas transformam seus filhos no centro das atenções (infantolatria), permitindo que eles estabeleçam as regras em casa e decidam o que querer comer, o que querem assistir, que jogos jogar com tempo ilimitado de tecnologia. Atitudes assim, não apenas contribuem para uma sensação falsa de poder, mas acima de tudo, deixam escapar pelos vãos dos dedos, conforme Sigmund Baumann (2010) destaca sobre o real significado do que é ser pai e mãe: que em tese deveriam ter atitudes que transmitam segurança emocional a seus filhos e acabam estabelecendo limites e trocas afetivas na formação de um verdadeiro cidadão. Os filhos precisam perceber o amor, o afeto e a autoridade dos pais, para o desenvolvimento equilibrado nos aspectos físicos e emocionais! São questões cruciais na formação de sua personalidade!
Fica a pergunta: a FAMÍLIA tem sido um ambiente que vem contribuindo para a independentização de seus filhos para exercer com responsabilidades seus futuros projetos de vida ou a FAMÍLIA vem se transformando nos últimos tempos em um ambiente de descomprometimento e, por consequência, de instabilidade emocional futura pela ausência de definição clara de princípios, valores e atitudes significantes?
Quem está no controle: pais ou filhos? É momento de reflexão e mudança de atitude.
Célio Alves de Oliveira – Formado em Filosofia, Pedagogia e Direito. Mestrado em Antropologia e em Direto. Master em Mercado y Derecho e há 34 anos, associado à Escola de Pais do Brasil, seccional de Joaçaba e Membro do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil. celiocapacita@gmail.com
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