ENCURTANDO A ADOLESCÊNCIA

“Para educar precisamos ter dúvidas sim, porque só assim crescemos, mas precisamos também de algumas certezas básicas, porque só assim realizamos”. Tânia Zagury (2001)

 Discorrendo sobre a adolescência, é importante que reflitamos sobre os mais diversos assuntos, entre eles:

 Imposição de limites: O mais acertado é que desde o nascimento de nossos filhos, tenhamos um modelo educacional, um plano, objetivos bem delineados de como pretendemos educá-los. Podemos para tal, aprofundar nossas leituras, ou inspirarmo-nos em pais que já tenham executado essa tarefa com primazia e que seu exemplo nos sirva de modelo, como também discutirmos com profissionais ou com um grupo de pais, que como nós, tenham essa mesma preocupação.

Aliado à necessidade da imposição de limites está o desafio de encontrar formas de fazê-lo sem o uso de castigos corporais e da força física, denominada agora que se estuda a possibilidade de mudança na legislação de “palmadinha fora da lei”. A felicidade e o futuro dos filhos não dependem de uma nova lei, e sim do bom-senso, preparo, equilíbrio e amor verdadeiro dos pais.

A vida, com certeza, reserva-nos muitos “nãos”. Cabe a nós, pais, irmos, aos poucos, mostrando isso aos nossos filhos, preparando-os para suportar as derrotas e dificuldades com tranquilidade e espírito de luta, sem maiores problemas. Dizer “sim” sempre que possível e “não” quando necessário – eis a melhor forma de sermos amigos dos nossos filhos, preparando-os para vida, dentro da realidade. Nem sempre podemos impedir que nossos filhos tropecem, mas podemos sim, ensiná-los a levantar-se e recomeçar. Esse talvez seja um dos nossos maiores legados.

 Sexualidade: Façamos da tevê nossa aliada. Aproveitemos com inteligência e criticidade o que a televisão traz de diverso, de estranho, de novo, de certo e de errado, criando em nossa família, o hábito salutar de discutir e pensar sobre o que se vê, ouve e vivencia.

Não devemos esconder nossos pontos de vista por medo de parecermos antiquados. Antes de sermos amigos de nossos filhos, somos “pais” e precisamos exercer essa função de forma integral.

Para que o jovem não se torne um eterno adolescente, é necessário que ele compreenda as consequências de cada passo que se dá em direção ao futuro. Portanto, não nos esqueçamos de incluir nas orientações sobre sexo, discussões e papos sobre responsabilidade e sobre a hora certa para cada coisa na vida. Não deixemos de falar sobre o amor, nem de abordar os problemas da promiscuidade, das doenças e da imaturidade.

Deixemos claro para nossos filhos que eles jamais devem fazer coisas só porque os amigos já fizeram, ou “disseram que fizeram”. Mostremos a eles que é mais fácil se arrepender daquilo que se fez, do que daquilo que não se fez.

Não devemos estimular atitudes de dependência nem esperar que eles nos perguntem sobre cada passo que começam a dar na vida, mas devemos prepará-los para que possam tomar suas decisões com segurança e sabendo o que estão fazendo.

Devemos falar com nossos filhos de forma clara e direta sobre sexo precoce, gravidez na adolescência, namoro sério, ficar, transar, sexo e prevenção.

Importante mesmo é conversar, não só sobre o que é sexo, como é, como se faz, quando se deve ou não fazer, contracepção, doenças sexualmente transmissíveis; mas conversar muito sobre amor, respeito próprio, responsabilidade sobre o seu próprio corpo e do parceiro, momento certo de cada pessoa e os perigos da promiscuidade.

Um tema pouco discutido é a diferença entre prazer e felicidade. É bom que se preserve um pouco de idealismo, é positivo que desejem não apenas prazer, mas que busquem a verdadeira felicidade. Construir uma relação não é fácil, tem que haver disposição, capacidade de algum tipo de renúncia, boa vontade de ambas as partes, enfim, tem que haver amor para que uma relação cresça e se solidifique.

Drogas: Devemos mostrar aos filhos que o álcool é a droga mais utilizada em todo o mundo, e que é bastante perigosa, justamente por ser uma droga lícita. Mesmo após a idade permitida, ensinemos nossos filhos a serem comedidos. O equilíbrio é uma grande virtude. O exagero e a falta de limites é sempre uma má escolha.

A preocupação com o cigarro, também exige uma abordagem com naturalidade. Deixar claro que nossa preocupação é com a saúde. Fornecer artigos que falem do poder destrutivo do cigarro e da dependência, pode ser um bom caminho.

Neste aspecto a prevenção é o melhor remédio e nossa obrigação é:

 

  • proporcionar aos filhos um lar equilibrado, onde a relação seja amorosa, verdadeira e justa;
  • Informar sobre o perigo das drogas, mostrar exemplos concretos;
  • Lutar, sem descanso, para transmitir valores que os tornem verdadeiros cidadãos, desejosos de participar e construir.
  • Estimular a que participem de atividades esportivas ou de movimentos juvenis que estejam voltados para causas sociais (movimentos de voluntariado).
  • Lutar para transmitir objetivos de vida ligados ao bem comum (evitando que se limitem a conquistas materiais).
  • Estimular o desenvolvimento da ideia de que cada um de nós tem um papel social a desempenhar.
  • Ensinar aos filhos, desde bem cedo, que cada um de nós tem direitos, e em igual medida, deveres.
  • Dar muito amor e afeto, mas ensinar a cada um os limites e o respeito ao outro.
  • Estimular para que tenham objetivos de vida definidos e ir aos poucos, traçando estratégias de como conquistá-los.
  • Na adolescência proporcionar liberdade que denominamos de “vigiada”. Nesta fase é benéfico que conheçam pessoas, experimentem salutares e diferentes coisas e situações, mas precisamos estar na retaguarda, proporcionando segurança, vigiando de longe.

 Nada mais ajustado e belo do que uma criança que seja criança, um adolescente que seja adolescente, e um adulto equilibrado e maduro. Para grande parte dos jovens, a independência financeira demora, hoje, mais tempo a chegar. E, sem independência financeira é difícil considerar como adulto quem quer que seja. O encanto de cada momento é derivado da propriedade que a natureza definiu para cada fase do desenvolvimento humano. Não incentivemos atitudes precoces durante a infância. Na adolescência não permitamos que o jovem permaneça infantil, dependente sem iniciativa e responsabilidade, nem que se julgue adulto e dono de suas atitudes sem medir consequências. Assim como, que ao assumir sua vida adulta realmente o seja, arcando com suas responsabilidades de forma integral.

 Amar os filhos é dar-lhes oportunidade de crescer, de ser gente de verdade, de pensar, de refletir, de se realizar. Quanto mais cedo, portanto, os fizermos compreender que o Dever e o Prazer devem caminhar lado a lado, que não são excludentes entre si e, mesmo que em alguns momentos tenham de optar pelo Dever, logo adiante terão o Prazer, mais cedo eles amadurecerão e desfrutarão das benesses que a vida pode nos proporcionar.

 Referências

 ZAGURY, Tânia. Encurtando a Adolescência. Rio de Janeiro: Record, 2001.

ROMANINI, Carolina; SALVADOR, Alexandre; MAGALHAES, Naiara. Palmadinha Fora da Lei. Revista Veja. São Paulo: Ed Abril, 21de julho de 2010

Publicado na Revista de set. 2010 da Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Joaçaba/Herval d’Oeste, Videira e Campos Novos.

Vera Lúcia e Orlando Spricigo

Casal Presidente da Escola de Pais – Seccional de Videira SC

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