ENCERRANDO CICLOS… INICIANDO OUTRAS EXPERIÊNCIAS

Nossa vida é um constante abrir e fechar ciclos. Vivemos tão apressadamente que muitas vezes não nos damos conta das mudanças, ou dos ciclos que vão passando, ou se renovando, muitas vezes se fechando. Porém, esse fechar sempre nos remete ao ato instantâneo de abrir um novo.

Quero compartilhar com o leitor momentos vividos ao longo de uma vida, sempre dedicados à Educação. Não num simples relato de fatos, mas de vivências que foram marcando uma vida; de pessoas que passaram e marcaram. Sem citar nomes, porém experiências. Todas relacionadas à dedicação, ao doar-se, ao ensinar, ao aprender, ao viver.

Há situações inesquecíveis: lembro-me sempre dos braços das mães, apertados aos filhos no primeiro dia de aula, a angústia dos filhos na hora da saída da escola: “- será que ela estará lá fora me esperando?…” O bater eufórico de um coraçãozinho numa “simples apresentação escolar”, mas que precisou de inúmeros ensaios, e os olhos marejados das mães no final da apresentação dizendo: “- aquele é o meu filho”. Um ciclo que passou, tanto de quem viveu ensinando, como de quem viveu experimentando essas emoções.

Inesquecíveis e emocionantes foram as cartinhas de amor recebidas ao longo do período de alfabetização. Qualquer namorado ou namorada sentir-se-ia diminuído diante das que eu recebi. O olhar brilhante e a emoção de ouvir dizer: “- fui eu que escrevi pra você!” E todo ano eles vinham e vêm com os mesmos seis anos. Quem passou mais um ano ensinando fui eu, quem reviverá datas e procedimentos educacionais serei eu. Para eles, tudo será novo. Ciclos…

Ao longo desse caminhar da escola, vivenciei momentos difíceis dentro da Educação: valores se modificando, vivências em transformação, adolescentes fazendo novas experiências, professores confusos com os novos paradigmas e eu, vivendo mais um ciclo – a maturidade da idade e ao mesmo tempo, vendo meu ninho ficar vazio.

Muitos foram os convites recebidos para formaturas de alunos que alfabetizei. Outros de alunas e alunos convidando-me para ir visitar seus bebês que nasceram. Ciclos iniciando-se. Isso sem contar as muitas vezes que eu ensinei, também, seus filhos a ler e escrever. A roda da vida girando e renovando-se. E eu sempre aprendendo, importando-me com suas alegrias, seus aprendizados, suas dores. Sim, porque criança sofre e nos relata esse sofrer. Assim como os adolescentes vêm e nos contam o que se passa, os seus conflitos. E quantos pais, muitas vezes, não estão atentos para esse momento tão importante em suas vidas. Ciclos se modificando.

E por que esse relato inicial, caro leitor? Pelo fato de estar encerrando um importante ciclo em minha vida. O do magistério. Não um simples ato de lecionar, mas, uma vida inteira dedicada ao ensinar, ao interagir com o educando, formando um cidadão. Esse ciclo teve uma fundamental importância em minha vida.

Encerro-o ainda, sem saber ao certo o que farei a seguir. Mas de uma coisa tenho certeza, a do dever cumprido. Missão feita com amor, suor, muito esforço, lágrimas e alegrias. Há também tristeza por não haver reconhecimento por parte dos governantes em valorizar o que é tão importante na vida dos pequenos – pessoas que se doam por inteiro para transmitir e aperfeiçoar o conhecimento, a curiosidade pelo aprender. Mas resta-me a esperança de quem sabe, num futuro não muito distante, isso venha a acontecer.

Agora virá um tempo de corujice, de curtir a família e a neta. Passear e curtir o fazer e desfazer malas, aproveitar a companhia do companheiro inseparável para tantos e tantos planos de viagens feitos ao longo do tempo. Mas, sobretudo, fazer um papel importantíssimo e pelo qual anseio muito: o de ser vovó. O paparicar, afofar, beijar, caminhar pela calçada tomando sorvete ou no parque comendo pipoca.

E depois disso tudo? Bom, isso é um outro assunto. Primeiro preciso viver esse ciclo, sem muito planejar, estudar. Simplesmente viver, saborear, deixar acontecer.

Não posso deixar de registrar um agradecimento especial a Deus, por ter-me dado o dom de ensinar e saber encantar as crianças para o ato de aprender e conhecer o mundo por meio de uma professora de séries iniciais, mas de fundamental importância para todas as fases da vida. Agradecer por dar-me paciência e coragem para enfrentar as muitas adversidades no decorrer da caminhada. Sou grata, Senhor, por tudo o que me deste!

Este artigo foi publicado na revista Escola de Pais do Brasil – Seccional de Biguaçu, nº 4, maio de 2012, p. 38.

Vera Lúcia Baratto Schiochet  – Pedagoga/Psicopedagoga por 35 anos.

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