Em cada um de nós há um potencial de amorosidade e um potencial de agressividade.
É preciso expandir o primeiro e canalizar o segundo para fins construtivos. Essa é a meta de educação para a paz, no trabalho conjunto com a família e da escola, dois protótipos da comunidade social. Infelizmente, cresce o stress e a violência no mundo: o potencial de amorosidade se encolhe com a carência de solidariedade e com a atrofia da sensibilidade com o sofrimento alheio; o potencial de agressividade não canalizado transforma-se em raiva, ódio, violência. Cresce a massa dos excluídos, decresce o valor da vida; a extrema desigualdade de distribuição de renda aumenta drasticamente o abismo entre os miseráveis, pobres e ricos: a diferença de religiões e etnias acirra conflitos, desembocando em atos hostis, em guerras civis.
Por onde começar a reverter essa tendência ameaçadora?
Na formação de novas gerações, melhorando a assistência pré-natal e buscando ampliar, nos jovens, a consciência da maternidade e da paternidade responsáveis; passar informações básicas sobre a formação do vinculo amoroso entre a família (qualquer seja a sua composição) e o novo ser, capaz de interação desde a época da gestação.
Na essencial atenção às “miudezas do cotidiano”, tanto na família quanto na escola, os grandes temas da vida e os valores fundamentais (cooperação, gentileza, consideração, generosidade, solidariedade) são desenvolvidos a partir das pequenas situações do dia a dia da interação entre pais, filhos, irmãos, professores e colegas de turma, desde a época da pré-escola.
Nos pequenos e grandes impasses do dia a dia que se surgem a partir das diferenças entre as pessoas (de temperamentos, necessidade, preparação, valores, etc.), é possível cuidar e desenvolver métodos de comunicação para a paz, que consistem fundamentalmente, em:
a) Ampliar a capacidade da “escuta sensível”: entender a captar o que esta nas entrelinhas das palavras, da linguagem corporal e dos atos. É o desenvolvimento da arte de ouvir o que os outros dizem.
b) Resolver os impasses por consenso, evitando o autoritarismo (por exemplo, os pais impondo sua vontade sem se importar com o que os filhos pensam e sentem), quanto à permissividade (por exemplo, os pais oprimidos, com sentimentos de culpa, e os tiranos, agindo impulsivamente, segundo seus próprios desejos). No método de consenso (ou resolução conjunta de conflitos), as necessidades de ambas as partes são levadas em consideração e a solução dos impasses procura atender razoavelmente a todos. Estimula-se, portanto, a reciprocidade e a criatividade na busca de soluções, compreensão e a cooperação no sentido de formar os “acordos de bom convívio”, no que poderia ser denominado “Democracia Doméstica”.
Na prevenção do “stress nocivo” – buscar, na família e na escola, a valorização das pequenas alegrias, o desenvolvimento do olhar de apreciação (base da formação da autoestima e do gosto pela vida); desenvolver métodos e alívio saudável das tensões inevitáveis (por exemplo, por meio de exercícios físicos ou de meditação, que promove a paz interior) e não por meio de drogas (incluindo ai o consumo excessivo de álcool e tabaco) ou descarga da raiva em forma bruta, de modo nocivo ao convívio (os vários graus de violência doméstica).
Em resumo, tanto nos programas preventivos, quanto nas intervenções clínicas, é importante ampliar os recursos da amorosidade nos circuitos interativos, com o objetivo de ampliar as fronteiras da cooperação e solidariedade.
Estimular sempre a metodologia participativa, ou seja, o reconhecimento do problema comum e a busca de soluções como responsabilidade de todos. Com isso, será possível mais luz na “sombra” do stress e da violência em nosso cotidiano. E esse é, sem dúvida, um trabalho de ligação entre saúde, educação e justiça social.
(Trabalho apresentado no VI Congresso da Word Association for Infant Mental Health)
Publicado na Revista nº 1 – 2009 – Escola de Pais – Seccional de Biguaçu
Maria Tereza Maldonado – Mestre em Psicologia pela PUC-RJ. Membro da American Academy of Family Therapy e autora de vários livros, entre os quais “Comunicação entre Pais e Filhos”, “Vida em Família”, “Histórias da Vida Inteira”.
muito bom e proveitoso o texto
parabens