Sim! O dinheiro chama atenção das crianças desde pequenas.
E quando começar a ensinar a educação financeira? Através das atividades diárias podemos ensinar e chamar atenção para a saciedade, paciência, coragem, criatividade, tolerância e flexibilidade, qualidades fundamentais para uma pessoa adulta de bem com a vida e com o dinheiro, afinal o dinheiro faz parte da vida!
As crianças podem aprender a ver o valor das coisas de seu “mundo”, o valor das pessoas ao seu redor e depois aprender o valor da vida. Valorizar os brinquedos e as brincadeiras. Brincando a criança vai descobrindo o mundo e como ele funciona. Desenvolve seus valores e critérios. É brincando que a criança aprende a SER, antes de TER, e cria as noções de organização, cidadania, de respeito ao outro, bem como sua noção de limites e sua zona de conforto, recursos que serão muito importantes em sua vida adulta e também na arte de lidar com o dinheiro.
Observe que as pessoas com problemas financeiros são carentes de duas virtudes: saciedade e paciência. O insaciável compra muito e o impaciente paga juros além do necessário. Essas qualidades podem ser desenvolvidas na criança desde cedo através da alimentação.
A criança que aprende a comer o “necessário” não mais, nem menos, aprende a desenvolver a noção de saciedade. Se tornam adultos seguros, sabendo o que é suficiente para se sentirem felizes e realizados em relação à comida, peso, gastos, compras, bebidas e outros fatores importantes para o equilíbrio financeiro.
Outra virtude importante é a paciência. Ensine seu filho a esperar. Não satisfaça todos os desejos a tempo e a hora. Assim, tenha paciência com as pessoas ao seu redor, com as crianças etc. Planeje suas compras, procure comprar à vista, seja um bom exemplo para seus filhos.
As crianças aprendem mais através dos exemplos do que das palavras!
Estimule, desde pequenos (em torno de 3 anos), a criança a guardar dinheiro e que ela aprenda a “gastar bem”.
Ela pode aprender a juntar as moedas em um cofrinho, esperar o cofrinho encher para comprar algo que ela deseja. Aprendemos que o dinheiro tem valor, que podemos juntar e planejar algo através dele.
O dinheiro na nossa cultura está coberto com significados secretos.
Foi criado como um instrumento para facilitar as trocas.
É um meio para um determinado fim. Através do dinheiro podemos: proteger, ajudar, punir, se vingar, premiar, fazer justiça e injustiça, expressar a espiritualidade, adquirir liberdade e conhecimento, educar.
O dinheiro também é uma forma de energia. Nossas emoções são muito importantes na administração do nosso dinheiro e nossas crenças ocupam um papel fundamental na construção do nosso padrão de relacionamento com ele.
Para muitas pessoas, o dinheiro é uma grande fonte de estresse na vida, para outras é solução!
Aproveitem a mesada para ensinar aos filhos como administrar seu dinheiro.
Mesada não é obrigação de pai/mãe. Se na família existe a condição para que se dê as crianças uma quantia uma vez por semana, ou na quinzena, ou por mês, isto pode ser um “acordo estabelecido” e também uma estratégia para ensinar os filhos a lidarem com o dinheiro. Apenas dar o dinheiro e não ensinar a gastar, poupar e doar, não faz sentido. Deseduca. A criança quando ganha uma quantia deve usar este gasto para algumas despesas pessoais: sorvete, cinema etc.
Se o dinheiro acabar antes do prazo, não adiante a próxima mesada. É importante que ela aprenda a esperar, planejar seus gastos para que o dinheiro não acabe antes do prazo.
A mesada também não deve ser recompensa por boas notas ou bom comportamento.
Boas notas e bom comportamento são atitudes que fazem bem por si só, não precisa de prêmio. É descobrir a “alegria do dever cumprido” (Psicologia Positiva).
A quantia deve ser estipulada pelos pais, segundo seus critérios, valores e possibilidade econômica, levando conta também a idade dos filhos e suas necessidades.
Até os dez anos podemos dar a semanada, porque as crianças têm dificuldade de lidar com o tempo até essa idade.
Dos 10 aos 15, pode ser dado quinzenalmente, assim ela vai aprendendo a lidar com a ansiedade e vai sendo preparada para administrar a frequência. Aos 15 anos você pode dar a mesada mensalmente.
Acontece frequentemente nas famílias uma confusão entre dinheiro e afeto.
Não confunda amor e dinheiro. O valor de um presente, por exemplo, o valor da mesada deve ser de acordo com as condições e o critério de realidade de cada um. Alguns pais se endividam muito para dar uma festa de 15 anos, um carro, uma faculdade particular. O sacrifício é tão grande que o filho se sente em “dívida”. Gratidão não é dívida! Filho não é investimento. O retorno é eles serem felizes e darem conta sozinhos da sua própria vida.
Quanto mais intimidade, diálogo e respeito existe numa família mais tranquilo é falar sobre dinheiro.
Quanto mais pobre estiver a vida relacional na família, ou seja, quanto menos houver encontros, abraços, beijos e partilha, maior a necessidade de consumir algo para sanar as carências emocionais.
Por isso, é muito importante que se façam programas diferentes de ir ao shopping.
Visitar museus, viajar, trilha, caminhada, piquenique, jogos, quebra-cabeça etc.
Procure ter um tempo em família, rindo, conversando, fazendo uma tarefa. Quanto mais nutridos mais serenos, ativos, com a possibilidade de fazer um consumo consciente e viver uma vida plena.
Os filhos, na medida em que crescem, podem e devem participar da organização de um “orçamento familiar”. Lógico que a decisão sobre como o dinheiro será distribuído e aproveitado será sempre dos pais, eles são os adultos, eles que “fazem o dinheiro”.
Sim, fazemos dinheiro na medida que trabalhamos, economizamos e aplicamos o dinheiro para render.
Quando participam e sabem para que vamos economizar as crianças se sentem mais motivadas a colaborarem e às vezes até a participarem da forma que puderem.
A família quando conversa sobre o dinheiro, desmistifica, naturaliza, abre um assunto que parece “secreto”. Abram sua vida financeira para a família, mostrem quanto vocês ganham e gastam. Se por acaso, gastarem demais, estabeleçam limites, façam um plano para resolver o problema. Assim, desde cedo os filhos aprenderão a primeira regra básica sobre administração financeira: você deve gastar um “X” do que ganha, e não mais do que você recebe. Conversem sobre o orçamento da casa, os sonhos da família, os objetivos de curto, médio e longo prazo.
É importante aprender que o dinheiro tem quatro usos: gastar hoje, gastar amanhã, não gastar, e doar:
- Gastar hoje – é aquela quantia que destinamos para cobrir nossos gastos mensais, do dia a dia. Por exemplo: luz, telefone, água, alimentos, transporte, etc.
- Gastar amanhã – tem relação com o futuro, que, para uma criança pode ser comprar um álbum de figurinhas na semana que vem, para o adolescente pode ser comprar uma bicicleta daqui há 8 meses, ou a viagem de férias no final do ano, e para os adultos trocar de carro daqui a 5 anos. É importante entender que a noção de tempo é diferente para cada idade.
- Não gastar: representa o valor destinado ao futuro distante para pagar uma contribuição para uma aposentadoria tranquila, por exemplo.
- Doar: é muito importante a criança aprender a abrir mão de algo em prol do outro para aprender o valor das amizades, a alegria de compartilhar, a ser generoso, equilibrado e solidário. Pode começar por doar os brinquedos, roupas que não servem mais, livros, etc. As crianças também podem aprender a doar seu tempo.
A doação de dinheiro deve ser feita com cuidado para não se transformar em simples esmola ou para não ser uma forma de aliviar sua culpa por ter mais recursos financeiros.
Finalizando, pode parecer que dinheiro é apenas dinheiro! Mas, não é.
Como tudo que você cuida, administra, preserva tende a durar mais, observe como tudo está interligado. O dinheiro e o significado da vida! Dizemos que tempo é dinheiro, mas tempo é muito mais que dinheiro. Quando for sua hora de partir ninguém vai poder entrar no seu lugar na fila. Dinheiro você pode fazer (trabalhando, aplicando), ganhar de herança ou como prêmio, pode perder. Tempo não, você nasce com um “prazo de validade”.
Se a vida é sagrada, preciosa, como você vive faz toda a diferença. Quantas horas do seu dia você trabalha, quantos anos você trabalha para poder ter a vida que você tem… administrar o seu tempo, suas emoções, seu dinheiro é colocar faróis que possam iluminar seu caminho e assim poder saber para onde você vai, para onde você quer ir, o que deseja ensinar para seus filhos. Assim, você pode viver uma vida com mais plenitude e significado! Desfrutando de várias riquezas, podendo se dar ao luxo de ter “tempo e dinheiro”, amigos, família, hobby com arte e alegria.
Publicado na Revista Escola de Pais Seccional da Grande Florianópolis – dezembro de 2019, pg. 30
Márcia Alencar – Psicóloga – CRP 12/00559, Psicoterapeuta e Hipnoterapeuta, Especialista em Psicologia Clínica – e-mail: psicomar@terra.com.br
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