
Para falarmos em cuidado, precisamos falar em respeito. Isso implica em respeitar o outro e a si mesmo. De nada adianta dar atenção ao próximo se eu não desenvolver o autocuidado. Para isso, é necessário aprender a NÃO ter uma relação abusiva com as suas emoções e atitudes. Isto é autorrespeito, isto é amor-próprio. Nos relacionamentos saudáveis, precisamos saber flexibilizar as emoções, ter empatia com as minhas necessidades e os desejos dos outros. Agir em prol de outra pessoa é uma condição extremamente necessária para a construção de vínculos saudáveis, desde que seja conduzida de forma equilibrada.
Dentro do sistema familiar, a função parental é cuidar dos filhos, entretanto, muitos pais, na intenção de proporcionar uma qualidade de vida à sua família, deixam de cuidar de si. Respeitar a vontade do outro sem menosprezar os próprios desejos é fundamental para consolidar o aprendizado dos relacionamentos funcionais. Os filhos seguem muito mais os exemplos e as condutas do que as orientações verbais. São muito mais convincentes e influenciam muito mais as atitudes do que as palavras. Um adulto que desenvolveu autoestima, autorrespeito e autocuidado, automaticamente, se torna modelo e referência para as próximas gerações.
Atualmente, a influência das redes sociais torna as pessoas mais vulneráveis e suscetíveis àquilo que a sociedade determina como padrão de conduta. Existe o senso comum daquilo que é bonito, daquilo que é certo, daquilo que é errado, porém isso deve ser conduzido com equilíbrio. Muitas vezes, essa influência faz com que as pessoas se despersonalizem ou se descaracterizem tentando agradar os outros. Quando isso ocorre em excesso e passa a interferir na vida cotidiana, pode vir a se tornar um transtorno, uma vez que a pessoa passa muito tempo tentando corresponder às expectativas alheias, deixando de focar em si mesma.
É necessário desenvolver o autorrespeito e, com isso, se apropriar dos seus próprios desejos e necessidades, sem precisar constantemente agradar a todos. Isto é maturidade emocional, isto é ser adulto. Nós vivemos em uma sociedade na qual existem normas, precisamos nos adaptar às regras sociais sem nos despersonalizar. E como fazer isso sem gerar sofrimento?
Existe um comportamento básico para a saúde mental e para o autorrespeito que se chama flexibilidade emocional. As pessoas que mais sofrem são as pessoas rígidas, pessoas que não conseguem flexibilizar nem para si nem para os outros conceitos, princípios, atitudes… é como se a pessoa definisse um plano de ação na cabeça dela e aquilo precisasse acontecer exatamente como ela pontuou. Qualquer desvio nesse processo a pessoa desestabiliza.
Isso pode gerar um transtorno maior, um quadro depressivo ou de ansiedade, então se percebe que a saúde mental deve morar junto com o equilíbrio emocional. Essa flexibilidade é a capacidade de se adaptar àquilo que o contexto apresenta, é tomar uma atitude aprendendo a conduzir aquilo que a vida lhe apresentou. As futuras gerações estão superprotegidas e, ao mesmo tempo, abandonadas. Superprotegidas em questões materiais e abandonadas em questões emocionais. Existem também pais que se preocupam muito com o emocional do filho a ponto de quase anular psicologicamente a sua prole, porque o maior veneno da superproteção é acharmos que ele precisa o tempo todo de nós. No momento que eu superprotejo uma criança ou alguém, eu acabo passando a mensagem de que a pessoa não é capaz de se cuidar. Isto é um processo de invalidação do outro.
Os pais precisam cuidar dos filhos sem invalidá-los. Muitos pais usam os filhos como vitrine, se autopromovendo. “Eu conquistei para meu filho, então eu sou um bom pai”. Essa nova geração de pais está tirando da próxima geração o prazer de conquistar, de lutar pelas coisas, afinal, “eles ganham tudo”.
Em contrapartida, existem famílias excessivamente preocupadas com as questões emocionais. Em dar carinho, dar afeto, evitando que os filhos se frustrem ou sofram com as rotinas diárias. Pecar por excesso é tão danoso quanto pecar por falha!
Cuidar e ser cuidado: onde começa um e termina o outro?
É importante nos cuidarmos. Isso é empatia e compaixão, não é pena! Nós precisamos cuidar de quem está ao nosso redor. Os seres humanos foram feitos para cuidar uns dos outros, não para ficarem sozinhos, mas é necessário não se violentar para cuidar do outro. “No momento em que eu me violento para cuidar do outro, eu não estou conseguindo nem cuidar bem de mim e nem cuidar bem do outro.”
Luciane Farina Fochesatto – Psicóloga, palestrante e escritora. E-mail lufarinafochesatto@gmail.com
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