Construindo o amor conjugal na 3ª idade

Com o expressivo número de idosos nas sociedades atuais, é necessário que, cada vez mais se pesquise, se escrevam artigos e se desenvolvam trabalhos com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre esta etapa de vida e sobre aqueles e aquelas que dela fazem parte.  Assim, para escrever sobre o processo que envolve os cônjuges na fase da terceira Idade, será necessário, primeiramente, definir o novo ser que se personifica a partir do momento em que se une pelos laços do matrimônio – o SER CONJUGAL.

O que vem a ser um SER CONJUGAL?

Conforme o próprio termo sugere, é espécie singular de relação entre pessoas que se unem uma à outra, com propósito de vida mútua em comum, distinta da ordinária vida social, ou da relação social a que se subordinam. As pessoas assim unidas chamam-se, por isso, cônjuges (do latim cônjuge = con, “um com o outro” + juge,re, “ligação ou união”), desaparece o EU-TU para surgir o NÓS que revela o SER CONJUGAL.

Em seu livro “Inteligência Emocional”, Daniel Goleman escreve sobre os vários tipos de inteligência que as pessoas possuem; elas nascem e morrem com o mesmo QI, ao passo que o QE, pode ser adquirido e aperfeiçoado ao longo de suas vidas.

Dentre as inteligências estudadas por Goleman, a INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL é o conjunto de habilidades correlatas, voltadas para o interior de nós mesmos, discernindo nossos próprios sentimentos e emoções. O QI nos ajuda a encontrar o cônjuge e casar; o QE contribui para que permaneçamos casados. Ainda é pertinente afirmar que a Inteligência Conjugal contribui para que se permaneça “bem casado”, de onde se deduz que INTELIGÊNCIA CONJUGAL é amar o cônjuge de tal maneira que ele se sinta completamente amado, aceito e valorizado; é usar toda nossa inteligência, inclusive e, principalmente a espiritual, para alcançar a excelência matrimonial e permanecer nela.

AS FASES DO AMOR CONJUGAL

O casamento e a família de um modo muito especial é uma escola de amor, porque a convivência diária obriga a acolher o outro com respeito, diálogo, compreensão, tolerância e paciência. Este exercício forte de vivência das virtudes faz cada um crescer como pessoa humana.

A harmonia conjugal é atingida quando o casal, na vivência do amor, “supera-se a si mesmo” e harmoniza as suas qualidades numa união sólida e profunda. Quando isto ocorre, cada um passa a ser enriquecido pelas qualidades do outro. (Pe. Eraldo – in “jornal classe A” – São Salvador – BA).

Há, então, como que uma transfusão de dons entre ambos. Mas para isso é preciso que o casal chegue à unidade, superando as falsidades, infantilidades, mentiras e infidelidades. Para chegar a esse ponto, é necessário olhar para o outro com muita seriedade, respeito e atenção. Assim, é o Amor Conjugal, no qual a idade não importa; o segredo é não lutar contra a idade; importa é estar em união com ela. E esta é a regra da sabedoria.

O Amor conjugal passa por várias fases, ou seja, vai da infância do amor ao repouso do mesmo.

A INFÂNCIA do Amor Conjugal é a etapa da alegria e da esperança; o amor está novo, intacto. O casal vive em estado de descobertas, mas ao sobrevir uma primeira crise, há um desvanecimento da ilusão e o lar, recém-formado, se vê abalado. Para vencer essa crise, terão que se aceitar em suas imperfeições e é nesse momento, que o matrimônio se efetiva realmente, lembrando que segundo Schwizer, “vencer as crises, é indispensável para que o amor sobreviva” (SCHWIZER). Então as demais fases se sucedem:

A JUVENTUDE é a fase na qual ambos os cônjuges aprofundam o conhecimento um do outro e os atritos cessam e, então, este matrimônio entra na maturidade do Amor Conjugal, o que acontece por volta dos 15 anos de casamento; o casal vive momentos de serenidade. Então, nova fase se inicia a do meio dia do Amor Conjugal, que acontece por volta dos 45/50 anos de casamento. Caso não tenham superado as crises que apareceram nas etapas anteriores, o casal entra nessa etapa minado pela indiferença e pela rotina, então, “o demônio do meio dia” tem grandes possibilidades de triunfar; mas se as diferenças foram superadas, o Amor Conjugal vai para a etapa do renascimento do amor; é o crepúsculo do amor, o momento em que o matrimônio desfruta da unidade conquistada, de uma harmonia profunda e de uma nova paz. É a hora da felicidade serena, sem choques e sem conflitos. Entretanto, é nessa fase que também aparecem os achaques da idade e um se torna o enfermeiro do outro. Doenças degenerativas, por vezes, atacam o SER CONJUGAL, havendo a necessidade do sacrifício de um pelo bem do outro. Nessa etapa, o Amor sofre uma grande transformação; o Amor paixão revela uma grande Amizade, uma ternura imensa; uma paciência histórica, um carinho imenso pelo ser que agora precisa ser motivado para seguir adiante e é aqui, que o “Ser Conjugal” precisa se revelar intenso para que as necessidades sejam supridas.

E, finalmente, virá o REPOUSO DO AMOR, momentos no qual, envelhecidos no amor, ambos só terão reconhecimento, um pelo o outro. Nem sequer, a dolorosa perspectiva da morte poderá perturbar a maturidade do amor. Haver-se amado até o final converte a morte num ápice, numa vitória. Diante dos homens, como diante de Deus, não existe um amor mais perfeito que o amor de dois seres que envelheceram juntos e que deram a mão para as últimas dificuldades a fim de gozar das últimas claridades do dia.

O amor é muito mais que um sentimento; é uma atividade que implica em atitude e ação. A característica básica da ação é o dar, não o receber; dar implica em se privar de algo, se sacrificar[1]; outra característica do Amor é o cuidado; é preocupação com cada detalhe da vida do outro; estar atento às suas necessidades, sonhos e desejos. Quem cuida está sempre alerta, atento ao que o outro pensa, fala, age. Cuidar é trabalhar pelo e para o outro; é sentir-se responsável pelo bem estar da pessoa amada, principalmente na 3ª Idade, quando as necessidades são maiores e as dificuldades se acentuam. Quem cuida precisa estar atento, principalmente, às necessidades emocionais. Amar envolve respeito à individualidade do outro; respeito vem da sua raiz – respicere, que significa olhar para – ou seja, a capacidade de ver o outro, tal como ele é, na sua individualidade e singularidade. Quem ama aceita. E essa aceitação, na velhice é de fundamental importância.

Considerações Finais

O amor conjugal é como uma planta que precisa ser cuidada, desde o início da vida matrimonial. Se os cônjuges exerceram o amor-cuidado e o amor-respeito desde o início da relação, na velhice haverão de cuidar um do outro, sem nenhuma dificuldade.  Por que… “a casa foi, realmente, construída sobre a rocha” … Sobre ela passaram as maiores tempestades, mas essa casa permaneceu de pé… [2]

O relacionamento conjugal na 3ª idade como uma eterna construção, deverá continuar se fundamentando no diálogo, no carinho, no amor recíproco, no respeito, na confiança, na paciência e na compreensão. São esses exemplos que as gerações mais novas precisam estar vivenciando para poder estabelecer, no futuro, relações embasadas somente em um Amor perene; perceber que seus Avós chegaram à velhice de forma serena e agradável, porque souberam construir o seu Amor conjugal sobre bases sólidas e poderão entender o quanto é bom amar e sentir-se amado, em qualquer período da vida.

Neuza Teresinha Pinto Valentim – Pedagoga, Pós-graduada em Didática do Ensino Superior – UNIVALI e Educação a Distância – Universidade Católica Virtual de Brasília.  Associada da Escola de Pais da Grande Florianópolis. Tutora nos Cursos a Distância oferecidos pelo Centro de Filosofia, de Florianópolis. Coautora em três obras que são trabalhadas nos cursos na modalidade a Distância: 1. Meu Quintal, 2. Pais Filosofam, 3. Ensinar e Aprender para além da Caverna.

REFERÊNCIAS

AQUINO. Felipe. Como ter uma boa harmonia conjugal.  In: cleofas.com.br/harmonia-conjugal-parte-1.

BANDEIRA. João Paulo & Márcia. Ministério Espaço Amor à Família. Acesso em 23/03/2015.

BOTELHO. Jasiel & Ivone. Inteligência Conjugal. In: inteligenciaconjugal. blogspot.com/2009/12/idade-e-terceira-idade.html

ERALDO. Pe.. In Pastoral da Família. Jornal Classe A – Bahia/ Brasil

FREITAS. Valdenice. Repensando o Amor Conjugal. Disponível em: valdenicefreitas.blogspot.com.br/2011/06/repensando-vida-conjugal.html: Acesso em 23/03/2015.

SCHWIZER. Nicolás. Pe. Shoenstatt. Movimento Apostólico.



[1] BANDEIRA, João Paulo e Márcia. Ministério Espaço Amor ‘a Família.

[2] FREITAS.Valdenice. Repensando o Amor Conjugal.

Artigo publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccional da Grande Florianópolis nº 6, junho de 2015, p. 24.


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