Conscientização do voluntariado na Escola de Pais

“A Conscientização consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. Valoriza-se a práxis humana, como ação e reflexão sobre o mundo, na emergência de um agir consciente, comprometido com a transformação da realidade” ( Paulo Freire)

Não se pode escrever sobre conscientização e voluntariado sem que antes se tenha presente o que essas palavras têm de mais amplo e profundo em seus significados.

Conscientização pode refletir, em uma simplificação didática: Conscientização = consciência em ação. É isto mesmo: conscientização não é nada mais nada menos que a transformação de nossos mais íntimos convencimentos (consciência) em atitudes de nosso viver (ação).

Há na EPB uma ampla literatura sobre o voluntariado, mesmo porque é nele que se baseia todo o nosso trabalho. Ainda que não se tenha esgotado o assunto, tem-se como mais significativo e urgente o agir consciente. Daí porque a ênfase desse artigo se dará no nosso agir.

A conscientização é mais do saber o que se passa ao seu redor, é, acima de tudo um processo histórico e, nesse sentido, é o ato de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de vida. O homem para se realizar como sujeito submete-se a um amplo processo de reflexão, decisão, organização, ação. É o homem se descobrindo, buscando respostas aos seus desejos.

A conscientização, segundo Luiz Gonzaga de Souza “não é o indivíduo conhecer a realidade tal como ele é, mas um processo baseado na relação consciência – mundo”. Assim tem-se, de um lado, a consciência e, do outro, o mundo. Portanto a conscientização consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência, ou seja adquirir sua própria liberdade de ação. Não se perca de vista que a consciência humana está bastante interligada com o mundo real, daí que uma boa percepção do mundo é um processo lento, exigindo paciência e trabalho.

A consciência envolve duas fases de fundamental importância: a imagem e a atividade. A primeira é o perceber, é ver. A segunda é a práxis, é a atuação do homem frente às dificuldades do cotidiano. É neste contexto que se concretiza a consciência social onde se insere o voluntariado. Entende-se, portanto que o processo de conscientização passa pela trilogia: sujeito- atividade-objeto. Em seu caminhar, várias foram as mazelas que despertaram os interesses próprios de cada indivíduo. Foi assim que alguns grupos se organizaram em torno da importância – em nosso caso específico – da família: Encontro de Casais, Movimento familiar Cristão, as Pastorais da Família e a Escola de Pais – EPB. O movimento da EPB se insere, no processo conscientizador, na relação, acima citada, consciência-mundo – ser humano.

O próprio desejo de aprender – transmitir – ajudar que move o voluntariado da Escola de Pais é, em sua conceituação mais simples, uma tomada de consciência de algo que precisava e precisa ser feito para ajudar, amparar, ampliar a ação da Família como instrumento insubstituível de humanização.

A partir das relações homem-mundo, o ser humano surge como alguém que participa, que é sujeito num tempo e num espaço que lhe é próprio. No dizer de Paulo Freire “assume relações guarnecidas pela pluralidade, criticidade, pela consequência e pela temporalidade”. Dentro dessa ótica, o voluntariado na EPB faz com seus membros se organizem e ajam porque têm a consciência de que estão diante de algo que os desafia. A pessoa conscientizada é capaz de interpretar sua própria existência nas circunstâncias históricas em que vive. “Este processo conduz à humanização do mundo e do próprio ser humano, cujo artífice é ele mesmo” (Paulo Freire). Em contrapartida a alienação social vem marcada por sintomas como acomodação e sujeição a costumes que lhe são impostos contra, muitas vezes, seus próprios interesses. E assim, minimizado, cerceado, acomodado, o homem sacrifica sua capacidade criadora e o seu poder de decisão.

O processo conscientizador é contínuo, constantemente retomado, próprio de pessoas comprometidas com a transformação do mundo e de si mesmo. Não tem data para terminar. Ele desenvolve a criticidade, aguça a curiosidade e alimenta a criatividade em vista da ação transformadora. Isto implica na capacidade de revisões e reinterpretações, despojamento de preconceito, segurança de argumentação, facilidade para o diálogo, preocupação com os fenômenos sociais e abertura para a compreensão do novo. Pergunta aos associados da EPB: não é isto que ensinamos nos nossos círculos e aprendemos no nosso CAC?

REFERÊNCIAS:

Freire, P. – Conscientização. São Paulo, Ed. Morais, 1980

Barreiro,J. – Educação Popular e Conscientização. Petrópolis, Ed. Vozes, 1980

Souza, L.G. – Democracia: Consciência Comunitária. www.eumed.net/libros- /2006a/lgsgratis

 

Djalma Falcão – Membro da Diretoria Executiva Nacional da Escola de Pais do Brasil.

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – 56º Congresso Nacional – 2019, p. 21-22.

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