COMUNICAÇÃO E O USO DE TELAS

Passeando com minha mãe nas ruas da minha cidade natal encontrei um casal de amigos dos meus pais que os considero tios queridos. Conversando sobre a família, um deles me disse que iria comprar um tablet para os netos e perguntou minha opinião. Tal pergunta levou a várias reflexões, inclusive a este artigo. Então, vamos lá.

Como filha da Escola de Pais do Brasil, Seccional Anápolis, aprendi que os extremos, em geral, não é o ideal. Ou seja, nem tablet demais e nem a radicalidade de que ele e as demais telas são os piores recursos desenvolvidos e que somente eles fazem mal à nossas crianças. É necessário refletir sobre o porquê as telas são oferecidas às crianças.

Sou fonoaudióloga e atuo no desenvolvimento infantil, com enfoque nos Transtornos Alimentares e da Comunicação. Nos meus encontros com os pais de pacientes, vejo cada vez mais, pais utilizarem deste recurso como forma de “silenciar” ou “acalmar” seus filhos. E realmente, parece mágico quando uma criança pega o celular ou o tablet, ou até mesmo liga a televisão. Elas ficam anestesiadas. Parece até a “chupeta” do bebê. … parece mágico quando uma criança pega o celular ou o tablet, ou até mesmo liga a televisão…

As crianças aprendem interagindo com o meio em que vive, identificando as coisas, os sons, as pessoas e até mesmo os seus sentimentos, imitando quem convive com ela, observando suas ações e escutando suas pontuações. Isso é interagir… trocar informações e sentimentos, aprender como agir e pensar com o outro.

Infelizmente entre a criança e a tela não existe interação. Quando menos esperamos, vemos nas crianças comportamentos, verbais e não verbais, semelhantes aos que são expostas, seja nas telas ou pelos seus cuidadores. Quando se trata de telas, muitos pais nem conhecem o conteúdo apresentado, pois colocam as crianças diante delas e correm para seus afazeres.

Me lembro dos meus pais sentarem e assistirem alguns programas comigo e meus irmãos, desligando a televisão estrategicamente para nos questionar sobre nossas opiniões diante do que estava aparecendo nas telas. Isso despertou em nós um senso crítico sobre o que é exposto e mais ainda, nos mostrou que tudo é permitido, mas nem tudo convém e nem por isso, precisamos descriminar.

Para surpresa de muitos, as telas podem sim, quando bem utilizadas, ser um meio de interação entre as crianças e seus cuidadores. Para isso, as telas não podem ser o substituto do seu cuidador. … vemos nas crianças comportamentos, verbais e não verbais, semelhantes aos que são expostas …

A criança ainda não sabe identificar e definir seus sentimentos, sejam eles “positivos” ou “negativos”, com isso, tendem a reagir com birras para alcançar o que desejam, quando na verdade, querem a atenção dos pais. Quando os pais sedem a este comportamento vemos o reforço negativo de tais comportamentos.

As telas geram um estado de prontidão às coisas, que não é real em nosso mundo “real”. Essa situação, quando negligenciada, não permite às crianças conhecerem formas diferentes de reagir e geram quadros de ansiedade. Assim, aquilo que era o “pacificador” do ambiente, passam a ser o “desestruturador” dele.

Queridos vovôs, papais e titios, penso que antes de decidir se vale a pena comprar um tablet para suas crianças, é necessário definir o objetivo de oferecer este recurso.

Vale aqui, algumas dicas:

Limite o tempo de uso das telas

Quanto menor a criança maior a necessidade de interação com o outro para desenvolver habilidades cognitivas, comunicativas e sociais de qualidade. Logo, menos deve ser o tempo de exposição às telas.

Dedique um tempo para sentar com eles no chão, fazer uma roda e contar histórias, cozinhe e coma algo gostoso com ele, escute o que eles tem pra contar de suas vidas…. As telas geram um estado de prontidão às coisas, que não é real em nosso mundo “real”.

Ensina-os a ver, sentir e querer estar entre pessoas.

Interaja com a criança sobre o que está vendo. Se seu netinho ou filho está diante da tela pergunte sobre o que está vendo, imite a música ou a dance o que está assistindo juntamente com ele. Ao finalizar o tempo determinado, vivencie na prática o que foi assistido deixando-o liderar a brincadeira ou encenação. Dê espaço à criatividade!!

Ofereça algo atrativo em troca da tela

Seja atrativo para seu netinho ou filho dando espaço para a criança e para a criatividade que existe em você. Nossas melhores lembranças foram vividas com pessoas e não com coisas, afinal, o brincar é atemporal e está sempre na moda. Além de nos fazer atrativos para qualquer criança, brincar vai nos tornar leves e desligar de situações reais do mundo de gente grande.

Que o não seja uma negativa

Se for necessário dizer não, mantenha a postura de negativa sobre o fato, nunca utilize dele como recurso de ameaça para conseguir algo. Lembre-se, a criança aprende muito mais com nossas atitudes. Se chantageamos, ensinamos a chantagear. Sem falar que o Não e o Sim perdem seu sentido.

E para finalizar, gostaria de dizer que criança demanda atenção, disposição e animo de cuidar e de aprender. Afinal, elas nos observam constantemente como agimos, reagimos e comunicamos com ela e com os outros. Por outro lado, conviver com elas nos faz voltar ao período mais bonito e puro da nossa vida, a infância. Neste retorno, ressignificamos muitos conceitos aprendidos e percebemos que nela construímos a base do que somos hoje.

Então… qual é a base que gostaríamos de construir?

Empatia, respeito e interação ou individualismo, desrespeito e isolamento. A habilidade de comunicar só se desenvolve por meio da interação com outro agente comunicador, ou seja, de pessoa para pessoa.

Isabella Maria Gonçalves Mendes – Fonoaudióloga – PUC/GO Ms em Ciências da Saúde – UnB

Saiba mais, acesse: https://escoladepais.org.br

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