A longevidade está aumentando. Os casais estão sendo pais mais jovens. Os filhos, cada vez em menor número, mas continuam chegando. E chegam quando os pais estão ainda crescendo na vida profissional.
Faz décadas que não é mais só pai que trabalha. A mãe também trabalha fora, e muito. Às vezes até mais que o próprio marido. Os avós que se aposentam ainda estão na “melhor idade”, isto é, tem muita energia e alegria de viver, portanto não mais como as suas mães que ainda tricotavam enquanto os avós cochilavam na poltrona da sala…
Hoje as avós são “saradas”, isto é, fisicamente em forma, exibindo com categoria sua juventude, salvo raras exceções. Os avôs também estão mais conservados que os de antigamente, porém um pouco mais reservados que as avós quando se referem aos próprios cuidados estéticos.
As crianças começam a ir para escolinha com dois anos de idade. Mas boa parte delas frequenta creches a partir de 4-5 meses de idade. Creches são estabelecimentos de assistência, mas os pais falam que seu filho está na “escolinha”. Pode até ser uma escolinha de vida por ver outros nenês, por sair de casa etc.
Temos então uma geração de criancinhas necessitadas, (mal comparadas com a fome das criancinhas, pois de fome mesmo elas não têm nadinha e bem comparadas com carência de afeto físico), e uma geração de pessoas com algumas disponibilidades (outras com total disposição e disponibilidade), com bastante experiência de vida e melhor ainda, da mais alta confiança. Nunca ouvi falar de vovós que sequestram netos. Mas se assim fazem, até pagam para devolver algumas criancinhas, cujos pais também pagariam dobrado para ficarem com elas para poderem pelo menos dormir uma noite tranquila, umazinha só…
Os pais sentem de culpa por não ficar tanto tempo com os filhos como gostariam. Acham que estão falhando na educação deles. Mas não se permitem a tirarem um tempo para o casal, pois a culpa aí passa a ser dolosa. Eles, os dois, trabalham não só porque querem fazer carreira, mas também porque precisam de dinheiro. E como filhos pequenos gastam, às vezes, até mais que filhos maiores…
Outro grande receio é que os avós podem atrapalhar a educação dos seus preciosos filhos. Assisto crianças mal educadas com e sem avós. A má educação é resultado muito maior da falta de conhecimentos dos pais em educação do que avós estragando o que eles construíram.
Aliás, as crianças sabem diferenciar quem de fato “manda nelas”. Basta os avós fazerem ou pedirem algo que os filhos não querem fazer que eles prontamente reagem: “Você não é meu pai(ou mãe) para falar assim comigo! (ou mandar em mim!).
Os pais teriam que colocar como prioridade a educação no lugar da convivência com os filhos. O conviver é funcionar como não-pai e não-mãe, reforçado por frases de efeito tipo: “os pais são os melhores amigos dos filhos”. Fico com pena destes filhos, pois então eles não têm pais. Pais são os que respondem pelo futuro deles e não simplesmente se divertem juntos.
Como não existe almoço de graça, deixar os filhos com avós também tem o seu preço. É um preço muito barato se os pais souberem aproveitar bem dizendo que não aceitam o que os filhos fazem, mesmo que estes digam que “aprenderam com os avós”. Então “vocês façam com eles e não conosco que não aceitamos por…” e expliquem direitinho os porquês da não aceitação. Isto é muito educativo para as crianças. Elas não podem fazer TUDO o que querem em TODOS os lugares.
Disponível em: http://www.tiba.com.br/artigo.php?id=030
Içami Tiba é psiquiatra e autor de 31 livros, dentre eles: “Quem Ama, Educa” e “Educação Familiar: Presente e Futuro”
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