Brasileiro não enxerga a própria corrupção

O brasileiro costuma apontar com muita facilidade o problema da corrupção do Governo, e mas não enxerga o problema da sua própria corrupção. A afirmação é do o professor e doutor em História Social Leandro Karnal, que esteve em Belém, na semana que passou, para palestra sobre a sonegação fiscal e seus efeitos no cotidiano da sociedade, na abertura do XVII Congresso Nacional do Fisco Estadual e Distrital.

Para ele, o cidadão tem que abrir mão da ideia de que a política seja algo desligado da sociedade. “Trocar o comportamento social, trocar o comportamento das pessoas é algo desafiador. Sou professor há 34 anos e há 34 anos eu recebo atestados médicos falsos, as pessoas assinam as listas de frequência uns pelos outros e, às vezes, com pressa para ir a uma manifestação contra o Governo que não é honesto”, disse.

“Então, essa revolução social e política tem a ver conosco, com o cidadão. A educação da probidade, da ética, ela começa em casa, continuar na escola, ela chega à empresa e o último posto dela, lá na ponta, é o Governo”, afirma.

Para ele, os brasileiros vivem um momento singular em sua história, pontuado por questionamentos e debates acerca de valores e posicionamentos políticos, econômicos e sociais. Dessa “encruzilhada”, podem resultar novos rumos para que o País possa enfrentar e superar desafios antigos como a sonegação e o descaso com os cidadãos no térreo da pirâmide social.

Leandro Karnal é um dos mais conhecidos nas redes sociais e vídeos no País, considera que o cidadão precisa pensar de forma coletiva e não individualmente. Para isso, é preciso buscar o Estado racional, aquele em que tirando dinheiro dele, você tira dinheiro de si.

“Em país onde a carga tributária é muito maior que a brasileira, como na Suécia, por exemplo, as pessoas pagam por ter uma concepção que se chama de Estado de Bem Estar: ‘Eu pago porque recebo muito’. NO Brasil, onde o Estado arrecada muito, retribui pouco, as pessoas têm em mente que quanto mais elas sonegarem, mais elas estarão sendo justas, porque elas estarão beneficiando a si e não ao Estado. Este é um equívoco. O Estado tem que ser racionalizado no sentido de servir à sociedade”.

POLÍTICA

Sobre a relação entre corrupção e política no Brasil, Karnal observou: “A política está em um processo de verdadeira revolução neste momento. Desde as manifestações de junho de 2013, o processo de impeachment no ano de 2016, o desgaste das autoridades federais, o desgaste dos governos, o desgaste da ideia de política e a atomização da ideia de poder e de política que hoje está na rua. As pessoas estão mobilizadas, o que é bom. As redes sociais colaboraram para isso, também. Acho que nós precisamos aprender nessa discussão também a ouvir, e isso está sendo muito difícil hoje. As pessoas emitem opinião, mas têm muito pouco o hábito de ouvir aos outros”.

Mesmo assim, para ele, os fatos indicam que nós nunca estivemos tão perto de uma mudança como estamos hoje. “É a primeira vez na história do Brasil que estão sendo investigadas por corrupção pessoas ligadas ao poder em exercício. Nós sempre investigamos os anteriores. Em segundo lugar, é a primeira vez na história do Brasil que estamos prendendo corruptores ativos e não apenas passivos. Em terceiro lugar, é a primeira vez na história do Brasil que nós temos um milionário branco preso. Isso é inédito em 516 anos da história do Brasil. E, por fim, uma sociedade profundamente sensibilizada pelo tema da ética e da corrupção”.

Sobre o governo Temer, Leandro Karnal afirmou que a perda de seis ministros na gestão do atual presidente da República confirma a tese (de Karnal) de que a corrupção não estava ligada a uma pessoa ou a um partido. “Infelizmente, a corrupção no Brasil é ambidestra, ela está à esquerda e à direita. E tem uma corrupção nova, também; mas nós estamos em um momento de questionamento e o Governo Temer, em parte, tem que responder, em parte, a esse questionamento estrutural da sociedade brasileira”.

Para Leandro Karnal, impeachment no Brasil só significa uma coisa: falta de controle do Senado e da Câmara dos Deputados. Quando esse controle existe, as dezenas de pedidos de impeachment que sempre surgem não vão diante. “Quando eles não controlam isso, como no Governo Dilma, o impeachment vai adiante”. De acordo com ele, o primeiro presidente da República, Deodoro da Fonseca, sofreu impeachment, e todos os presidentes da República têm motivo para impeachment, o que não significa que o presidente seja bom ou ruim, mas que ele não conseguiu controlar o Congresso. O conceito de golpe, para Karnal, depende da análise de cada facção no processo democrático. Ao comentar a PEC 55, Leandro Karnal afirmou que o Estado Brasileiro tem que economizar, cortar gastos.

http://www.ormnews.com.br/noticia/brasileiro-nao-enxerga-a-propria-corrupcao

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