Dizem que o mal do século é a depressão. Não há como discordar. Porém, outro mal que tem acometido muitas pessoas e organizações tem sido a dificuldade de relacionamento. Nesse contexto, um paradoxo fica evidenciado: tanto se progrediu com as tecnologias e os meios de comunicação, e as relações inter e intrapessoais tornaram-se ineficientes. Algumas ferramentas úteis foram desenvolvidas no intuito de ajudar nos processos básicos da comunicação humana, mas com a evolução crescente e constante foram esquecidas em algum canto empoeirado.
A Janela de Johari é um instrumento que merece ser constantemente praticado, por sua praticidade, relevância e eficácia, uma vez que se utiliza da regulação entre solicitar e emitir uma resposta (feedback).
Por qualquer lugar que se ande existem queixas de relacionamento: professores discutindo formas adequadas de motivar, dar suas aulas e avaliar seus alunos; alunos indignados dizendo “Prof. Fulano de tal é muito inteligente, mas não sabe passar o conhecimento”; empregados acionando patrões para fazer valer seus direitos, já garantidos por Lei; empregadores administrando a rotatividade, pois a intenção de colocar o homem certo no lugar certo parece que não funcionou; pais e filhos tendo diálogos superficiais, afinal alguns assuntos são inacessíveis; casais não conseguindo conversar sobre sexo, pois isso ainda é um tabu, mesmo com toda a nudez presente nas mídias; enfim, chegamos a acreditar que apenas alguns relacionamentos, algumas amizades foram preservadas.
Esta afirmativa é verdadeira se considerarmos a distância virtual que se criou nas redes sociais de relacionamentos on line, funcionando em quantidade de amigos adicionados, mas sem qualidade relacional real.
Algumas perguntas permeiam a cabeça de pais e educadores: será que quanto mais superficial, ou mais virtual, o relacionamento, maior será sua durabilidade? O que aconteceu com a figura do melhor amigo, aquele confidente paciente e sempre presente? Onde está o professor exigente, mas que ao final do ano era reconhecido como aquele que conseguiu fazer o aluno desenvolver-se integralmente?
Os tempos mudaram e a vida não para. As mudanças trouxeram mais informação e muito mais liberdade, isto é inegável, mas nem mesmo a avalanche de livros de autoajuda está suprindo as necessidades atuais do homem. É notória a falta de equilíbrio entre essa desenfreada busca e a aceitação, peça chave de toda essa crise existencial. É possível buscar uma condição financeira melhor, um relacionamento mais saudável ou mesmo estar inserido no mundo digital, mas essa busca não pode sobrepor-se à aceitação dos limites internos e às limitações do outro. Neste contexto, a Janela de Johari, que tem como escopo principal medir os processos de dar e receber feedback, pode ser muito útil.
Seu funcionamento está baseado em quadrantes, como uma janela, através da qual alguém dá ou recebe informações, sobre si mesmo e sobre os outros, conforme o quadro a seguir:
Conhecido pelo Eu
|
Não conhecido pelo Eu | |
Conhecido pelos outros | ARENA | MANCHA CEGA |
Não conhecido pelos outros | FACHADA | DESCONHECIDO
|
Arena : Área onde todos, o Eu e os Outros, conhecem.
Mancha Cega: Área que apenas os Outros conhecem.
Fachada: Quadrante em que somente o Eu conhece.
Desconhecido: Área desconhecida pelo Eu e pelos Outros.
Esta janela não é estática, algumas pessoas possuem áreas de abertura maiores e outras menores. O conhecimento acerca das potencialidades e restrições podem ajudar tanto o emissor como o receptor nesse processo de comunicação. Por exemplo: uma área livre muito reduzida pode significar inibição e restrição de comunicação no relacionamento, e quanto maior a área livre, provavelmente maior será também a produtividade, apoiada em relacionamento satisfatório. Cabe, portanto, primeiramente uma autoanálise, em seguida, começar a exercitar algumas perguntas básicas como: “gostaria de sua opinião sincera sobre o que acabamos de conversar”?
Mas é preciso sensibilidade para dar e ouvir o feedback, afinal, torna-se imprudente, e até inoportuno, querer aplicar a técnica sem seguir alguns princípios:
- APLICABILIDADE: Significa repulsa às observações genéricas, abstratas, nas quais o receptor nada poderá fazer. O feedback deve ser baseado em dados concretos, que possam dar subsídios a uma eventual modificação de conduta.
- NEUTRALIDADE: o feedback deve basear-se em fatos, evitando-se conotações de índole pessoal;
- OPORTUNIDADE: o melhor momento para dar feedback é o do fato ou da conduta que o ensejaram;
- SOLICITAÇÃO: o feedback deve ser solicitado pelo receptor, e não imposto pelo comunicador;
- OBJETIVIDADE: Para alcançar bons resultados, o feedback há de ser claro e sintético, sem rodeios ou evasivas;
- DIRETIVIDADE: Não pode haver intervenção de terceiros, o que evita distorções na mensagem;
- ESPECIFICIDADE: Repulsa o que é vago e genérico, porém deve-se primar pela descrição precisa e pormenorizada dos fatos;
- COMPROVABILIDADE: Sempre que possível, o emissor deve solicitar ao receptor que reproduza, com suas próprias palavras, a mensagem recebida, com o objetivo de assegurar-se do recebimento da mensagem correta.
Não é utopia e sim uma necessidade, que a atualidade está imprimindo, que as relações precisam ser melhoradas, caso contrário não se sustentarão. E quando algo não nos é mais funcional, a tendência é o descarte, a troca. Troca-se de emprego, troca-se de eletrodoméstico, de escola, de computador, de escola, de curso, carro etc., tudo pelo mais fácil.
Os conceitos ecológicos de preservação estão ainda atrelados ao ambiente. O grande passo a ser dado é aplicar a sustentabilidade através da reciclagem no mundo interno, e também nas relações. Isso pode ser treinado a partir da Janela de Johari, no exercício do feedback, que pode ser um bom começo.
Publicado na Revista de set. 2010 da Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Joaçaba/Herval d’Oeste, Videira e Campos Novos.
Tania Maria Zaffari Farias – Psicóloga – CRP 12/06617
Psicopedagoga, pós-graduada em Relações Humanas Para o Século XXI
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