Afeto de fato… na família!

Algo que todos sabemos… Tão comum e aparentemente fácil de ser entendido. O afeto é definido nos dicionários como sentimento de amizade e carinho, simples assim!  É de grande importância para as relações humanas, mas muitas pessoas têm dificuldade em se permitir vivenciá-lo. Então, por que não dedicar um tempo para refletirmos sobre um tema tão básico, porém tão pertinente nos dias de hoje?

Afeto é sentimento… E o que é sentir? Sentir é perceber através de qualquer um dos órgãos dos sentidos; experimentar sensação física ou emocional, mas também é definido como: melindrar-se, ofender-se; penalizar-se, lastimar! Devo ressaltar que esta definição é encontrada num dicionário utilizado na escola de nosso filho! (minidicionário da Língua Portuguesa – Ed. Scipione – Ruth Rocha).

Para sentir, com afeto, é necessário empenhar todos os nossos sentidos numa experiência contínua em ter, desde o olhar até o toque, a busca da humanização de todas as nossas atividades, pois, como coloca Ashley Montagu, em seu livro, TOCAR o Significado Humano da Pele, “humanizar-se é viver aprendendo e sendo cada vez mais gentilmente amoroso”.

 Afeto de fato… na individualidade!

Carregamos em nossa história pessoal um acúmulo de experiências positivas e negativas, que interferem na construção da relação com o outro, desde a aproximação até a formação de vínculos duradouros em todos os aspectos, desde o pessoal até o profissional. Por tratar-se de um processo contínuo, vivemos experimentando todas essas possíveis sensações que nos definem humanos.

No entanto, na busca da felicidade, nos unimos a grupos, pessoas, parceiros e amantes até que nossos sentimentos (eles mesmos, que deveriam nos unir) nos separem! Ou nos tornem indiferentes, apáticos e intolerantes à presença do outro. Os relacionamentos permanecem sólidos, até surgirem contrariedades, melindres, desconfianças, ofensas, que vão gerando frustrações e ressentimentos, acarretando lástimas e penalizações (lembremo-nos da definição do dicionário!), efeitos da idealização do outro.

Isso nos permite entender a complexidade das relações, onde se costuma esperar do outro aquilo que faz parte de si mesmo. Como coloca J. D. Nasio, no Livro da Dor e do Amor, “o amado não é um outro, mas uma parte de nós mesmos que recentra o nosso desejo… A pessoa do amado é como um cabide no qual se penduram as nossas pulsões até cobri-lo com inúmeras camadas de afetos”.

 Afeto de fato… na família!

Todas as nossas vivências, desde a infância, têm importância primordial para o desenvolvimento da afetividade. Temos que procurar nutrir em nossas crianças a afetividade através de atitudes de amor e carinho, mas também de ações que permitam que ela se desenvolva de forma sadia e segura.

Assim como não existe uma educação neutra, pois, mesmo na omissão já imprimimos uma direção, da mesma forma, também não existe um afeto puro, singular. Segundo Freud, “na verdade a emoção não é somente o que sentimos no instante, é também a repetição de um vivo sentimento, experimentado outrora”. Carregamos e acumulamos essas informações ao longo da vida e quanto mais experiências afetivas significativas, melhor o desenvolvimento do ser em construção.

Há uma complexidade na estrutura familiar que agrega várias histórias e vivências de cada membro. Os pais sentem-se cada vez menos capazes de nutrir por seus filhos uma afetividade satisfatória. Torna-se mais comum a queixa de que são incapazes de amar ou dedicar-se a uma outra vida, a uma família, ou cuidar de alguém à medida que não conseguem fazê-lo por si próprios.

O ser humano, com o avanço das relações tecnológicas iniciadas e terminadas on-line, não teve tempo para elaborar e adaptar-se a um novo conceito de vínculo, que pode propiciar novas relações de modo tão imediato e acabar de forma instantânea com a solidão, como também pode ser tão superficial quanto insatisfatório e angustiante.

O olhar tem agora um novo sentido diante de uma webcam, olhar este que se torna mais intenso, alvo de tanta atenção e dedicação que desperta mais interesse do que o filho que está sendo amamentado ou a criança que traz um desenho solicitando a atenção. Esta inocência das prioridades nas relações traz conflitos para o convívio harmonioso da família.

Colocar limites dá trabalho, sobretudo para quem já trabalha tanto… Melhor deixar passar, “só mais essa vez”… Limitar-se é que dá realmente muito trabalho! Os limites são uma expressão do amor… Como podemos falar em limites para nossos filhos e alunos, se os adultos não conseguem eleger e respeitar seus próprios limites? Se uma criança obtém atenção com um castigo ou um tapa, mas, dessa forma, consegue atrair a atenção que tanto deseja, logo, ela se vê alvo de uma série de comportamento, que farão com que ela obtenha o olhar e o contato, mesmo que sejam dolorosos e de desaprovação.

Para Augusto Cury, no livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes; “os vínculos definem a qualidade da relação… O que gera os vínculos inconscientes não é só o que você diz a eles, mas também o que eles vêem em você”. Nossos filhos nos observam todo o tempo e aprendem muito mais com o que fazemos do que com aquilo que lhes dizemos. Há muita necessidade dos pais em falar aos filhos o que devem fazer e como devem ser, porém há pouco movimento em tentar corrigir sua própria conduta no processo de educar.

O modelo ainda é o melhor exemplo de educação para que um filho eleja como ele pode e deseja ser.

 *Cristiane Oshiro – Psicóloga CRP 14 – 01986-6, especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência, membro da Escola de Pais do Brasil – seccional Campo Grande-MS.

Publicado na Revista da Escola de Pais – Seccional Campo Grande – MS.

Contato: Cristiane.oshiro@hotmail.com

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