Afetividade e emoção

Não se conhece qualquer representação do ser humano que abranja totalmente sua complexidade. Diferentes sistemas psicológicos, filosóficos e religiosos têm tentado concebê-lo. Levantam-se as questões: somos múltiplos, somos metamorfose, somos parte genética, somos parte meio exterior. Enfim, dependendo do ponto de vista que nos encontramos podemos conceber o homem. De concreto, e aceito por unanimidade, é que nos diferenciamos das outras espécies pelo fato de nos comportarmos sob a égide de uma psique. Dentre as várias facetas que compõem a psique, a afetividade é uma parte extremamente importante na construção do homem.

Dois afetos básicos compõem a afetividade, o amor e o ódio, os quais estão presentes em nossos pensamentos e ações. Estes afetos interferem diretamente em nossos comportamentos diários e se manifestam ao mundo exterior através de nossas emoções. As emoções são expressões da vida afetiva e podemos percebê-las através de reações físicas de nosso organismo: choro, riso, batimento cardíaco, expressões faciais, forma de falar. Elas estão intimamente ligadas às nossas experiências de vida.

Às vezes, planejamos como vamos agir em determinada situação, como por exemplo, falar com o chefe. Temos um discurso pronto, decoramos as palavras, mas na hora da situação real fazemos tudo completamente diferente. Sentimos-nos traídos por nós mesmos. Contudo, fomos impulsionados conforme nossas emoções. Um organismo emocionado (amor/ódio) tem uma descarga dessa tensão através de reações orgânicas, sendo que algumas delas, dependendo da situação, nos são incontroláveis, porque vem de situações que nos emocionaram.

 Essas reações emocionais, porém, têm diferentes formas de manifestação nas culturas. As populações têm expressões diferentes para as emoções uma vez que estas decorrem das situações experimentadas pelos indivíduos. Em algumas culturas os homens não podem expressar emoções, pois podem ser considerados fracos e inapropriados para o trabalho, assim não choram, ou, não sorriem. Aprendem desde pequenos que tais expressões lhes são inapropriadas, e assim as desenvolvem.

 O ser humano, na sua capacidade plástica, adapta suas emoções conforme as situações. Dificilmente, iremos ver alguém soltando gargalhadas num enterro, ainda que no pensamento alguém tenha vontade de rir e esteja alegre pelo fato da morte de determinada pessoa. Isto porque as emoções estão também ligadas a uma possibilidade de linguagem, na medida em que deixamos que os outros saibam, através de nossas reações físicas, o que estamos pensando, sentindo. Como são adaptativas e apreendidas acreditamos que nossas emoções são construídas conforme as situações de vida experimentadas individualmente. Aquilo que me comove pode não comover meu vizinho. Aquilo que me faz chorar faz um outro rir. Mas, como lidar com todas as emoções de forma equilibrada e adequada? Como podemos utilizar a afetividade para que tenhamos indivíduos mais saudáveis?

Façamos a reflexão: nossas emoções são aprendidas, decorrem das situações que experimentamos em nossa vida, podemos então escolher, como pais ou como cuidadores, que situações queremos que nossos filhos se submetam. Pode ser a instituição família – conjunto de pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas, de se complementarem – o local de aprendizado da afetividade. Entretanto, para que isso ocorra é preciso que haja comprometimento, referências positivas, cuidadores encarregados de estabelecer limites necessários ao desenvolvimento emocional equilibrado. As crianças, já em tenra idade necessitam de referências, de palavras, de gestos, de situações que lhes permitam estabelecer vínculos de afetividade. Por isso, é imperioso que as situações a que se submetam sejam ladeadas de limites, de frustrações, de vitórias, de perdas, podendo assim construir sua personalidade emocional de forma equilibrada.

É na família, que podemos experimentar as maiores expressões das emoções: alegria, felicidade, prazer, raiva, tristezas, brigas, ciúmes. Brigamos com quem mais amamos, temos medo de perder as pessoas que amamos, logo é na família que podemos encontrar o maior dos amores e também o maior dos ódios. Famílias sadias têm momentos de emoções felizes alternados com momentos de tristeza, brigas e discussões, os quais são reparados através do aprendizado da compreensão e do perdão.

 *Naiara Vicentini – Psicóloga

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