Entre muitas preocupações que tomam conta de pais e adolescentes, está o perigo das drogas. Pais tentam fazer de tudo para que o filho não caia neste vício, e os adolescentes procuram manter-se longe delas o máximo possível. E por que, às vezes, a droga ainda ganha essa batalha?
Cada pessoa que entra em contato com as drogas, o faz por uma razão muito específica. São várias situações que podem levar o adolescente ou até mesmo o adulto a cair na onda do vício: descuido, curiosidade, o fato de não querer ficar fora do grupo de amigos, a inocência de não ter conhecimento algum a respeito do mal que elas causam, seguir o exemplo dos pais ou de familiares mais próximos e, em muitos casos, a droga é vista como a salvação dos problemas.
Todos nós temos uma maneira diferente de lidar com os problemas que aparecem em nossas vidas. Para algumas pessoas, uma simples frustração pode ser motivo para não tentar outra vez e apegar-se às drogas para não pensar nos problemas. Outras pessoas são mais insistentes, e não se deixam abater por pequenos problemas. Assim acontece com o jovem quando passa pela fase da adolescência. Por ser uma fase caracterizada por uma série de mudanças complexas, muitas dificuldades surgem para o adolescente e para os pais também. A forma como cada família passará pelo processo depende da sua estrutura estabelecida durante todo o período de convivência.
O adolescente, além das visíveis mudanças em nível físico, também modifica o seu relacionamento com os pais e amigos. Isso gera confusões, porque a família em meio a tantas mudanças perde uma parte do seu poder sobre o filho, que agora busca no meio externo alternativas para constituir-se enquanto um ser que começa a tomar caminhos diferentes daqueles pelos quais os pais circulam. A maneira como o adolescente passa a se relacionar com os pais segue os padrões do relacionamento deles na infância, porém com intensidades diversas em função da necessidade que o adolescente sente de auto-afirmação. Mas os pais ainda são os responsáveis pelo bem-estar dos filhos e por isso, deve-se manter as normas de boa educação, de boa convivência, de respeito mútuo, obedecendo os limites, sabendo que cada um tem os seus direitos e também os seus deveres. O jovem, em função do seu melhor desenvolvimento intelectual, já pode assumir responsabilidades e os pais podem cobrar isso deles.
A fase da adolescência é marcada pelo preparo daquela criança para a vida adulta. É uma etapa muito marcante na vida das pessoas, e muito angustiante também. Se o adolescente não conseguir enfrentar tantas mudanças, buscando soluções para as suas angústias, pode encontrar nas drogas, muitas vezes oferecidas pelos próprios amigos, a cura para esse seu problema. Nesse ponto, as características da personalidade de cada jovem são definitivas. Se o adolescente for uma pessoa que desiste facilmente frente aos obstáculos que surgem, se ele não constituiu como valores próprios os cuidados e ensinamentos que pais e professores transmitiram a respeito do perigo que as drogas trazem, se não consegue buscar auxílio dos pais ou de outros profissionais para resolver as questões que lhe estão incomodando, então, o adolescente aceitará a primeira oferta de droga que receberá.
Às vezes, não é só porque o adolescente não quer seguir os valores que a família e a escola lhe transmitiram, que ele passa a se drogar. Existem casos em que os pais nem se deram ao luxo de falar com o filho sobre o assunto das drogas, ou sobre o perigo de outras doenças como a AIDS, por exemplo. Há outros casos em que os pais não conseguem manter-se firme na educação e no cuidado dos filhos, permitindo um canal de diálogo aberto, sendo companheiro dos filhos nos momentos difíceis, sabendo respeitá-los também, dando carinho e atenção constantemente. Muitos motivos podem afastar ou diminuir a quantidade e a qualidade do contato entre pais e filhos. Mas os pais precisam saber da importância dessa relação e lutar para que ela aconteça da melhor forma possível desde a infância, pois esta é a melhor forma de prevenção para futuros problemas.
O exemplo que os pais dão aos filhos é outro fator importante que pode facilitar o acesso dos jovens às drogas, não somente as ilícitas como a maconha, a cocaína e outras, mas as lícitas também, que muitas vezes circulam livremente dentro da própria casa do adolescente. É o caso de famílias em que o cigarro, a bebida alcoólica e alguns tipos de medicamentos estão disponíveis para o adolescente pegar quando quiser. A melhor forma de prevenção são os pais, naquilo que eles falam e fazem.
Além das medidas de prevenção que os pais devem tomar, também é importante que percebam, o quanto antes possível, se o seu filho está fazendo uso de alguma droga para poder auxiliá-lo antes que seja tarde demais. ZAGURY (2000) apresenta alguns sinais que podem levar a suspeita de que o adolescente está usando alguma droga. A autora ainda ressalta que são apenas sinais e não certezas. São eles: irritabilidade, agressividade, falta de motivação para estudos, falta de motivação para o trabalho, troca do dia pela noite, insônia, falta de motivação para namorar, sair, passear com amigos, vermelhidão nos olhos, desaparecimento de objetos ou dinheiro de casa, etc. A presença desses sintomas por um período prolongado pode ser encarado como um problema, que não necessariamente seja uso de drogas, mas que indica que o filho precisa de ajuda.
Que tipo de ajuda os pais podem dar nessas situações. Brigar, punir e bater não são as melhores atitudes a serem tomadas. Os pais ou as pessoas que estão dispostas a ajudar devem, a princípio, saber exatamente qual é o problema. Então, ter calma e pensar a respeito é fundamental para que a melhor solução seja encontrada. A solução será encontrada mais facilmente se for buscada em conjunto, primeiramente com o próprio adolescente e depois com outros profissionais. ZAGURY (2000) afirma que se os pais quiserem ajudar, devem conseguir combinar compreensão e afeto com segurança e autoridade. O jovem precisa perceber o quão importante ele é para a sua família, precisa ver a possibilidade de um futuro diferente e melhor para ele e entender que os problemas que temos que enfrentar só nos fazem aprender e crescer cada vez mais. Nem sempre as coisas acontecem direitinho da forma como a gente quer. Porém, não podemos desistir. E frente ao problema das drogas, nem pais e nem filhos podem desistir.
E as outras pessoas, enquanto membros de uma sociedade, também são responsáveis pelo combate às drogas e pelo auxílio àqueles que estão viciados, para que todos possam ter uma vida mais saudável e mais prazerosa. Droga não é um problema que atinge uma família individualmente. É um problema social e, portanto, deve ser enfrentado socialmente.
Publicado na Revista nº 3 – 2003, da Escola de Pais – Seccional de Timbó
Referência
ZAGURY, T. O adolescente por ele mesmo. 11ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
Carla Lúcia Schumann Anklam – Acadêmica do 9º semestre de Psicologia da Fundação Universidade Regional de Blumenau
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