A TECNOLOGIA E O VAZIO DA RELAÇÕES HUMANAS

            Estamos no sec. XXI em pleno mundo tecnológico, não estamos isolados nunca, sempre conectados, Atualmente, não há formas de se viver sem uso da tecnologia.

            Nos anos 50 – 60 quando a automação chegava ao terceiro mundo e já se deslumbrava a era tecnológica, ninguém imaginava o que o mundo pós guerra traria! A proclamação e a quebra de todos os paradigmas, do conhecimento humano e a “aceleração do tempo” ou seja o que levava anos para acontecer começam a efetivar-se em curtíssimo espaço de tempo. O conhecimento humano toma dimensões assustadoras o que parecia imaginação “loucura” torna-se realidade muito em breve.

O final do séc. XX e início do séc. XXI   determinaram a era global, tudo passa a ser instantâneo e presente. O telefone de linha perdeu seu potencial, porém o celular tornou-se “O INSTRUMENTO” indispensável, a tal ponto de que ninguém vive sem ele.

Os sistemas eletrônicos passaram a substituir cada vez mais pessoas e não sabemos como será o amanhã. Isso nos assusta e nos conforta ao mesmo tempo: assusta as gerações mais “velhas” por não dominarem rapidamente as novas tecnologias e, assim ficam um pouco deslocados “perdidos” e as, mais jovens por não as utilizarem adequadamente; Conforta porque tudo ficou mais fácil e acessível para, os “antigos” com alguma dificuldade de uso destas tecnologias e para ao mais jovens o uso delas, naturalmente, como se o passado não existisse.

            Cabem aqui, algumas reflexões quanto as relações humanas: – Alguns anos atrás se falássemos em relações interpessoais entendia-se simplesmente relações entre pessoas próximas que interagiam frente a frente. Hoje pergunta-se o que são relações interpessoais? – São relações entre pessoas próximas, mas não necessária e fisicamente presentes e frente a frente, mas frente a frente mesmo distantes, relações estas que podem ser afetivas ou não, mas não passiveis de sentir o calor humano das relações presencias, o aconchego, a carícia, o cheirinho, o olho no olho. Até as relações familiares perderam o afeto, o respeito, a presença, a afetividade e se tornaram “mais” virtuais.

            Tudo mudou já não é necessário repetir palavras basta compartilhar (WhatsApp, Facebook, etc..) não há necessidade de criar basta ctrl C ctrl V, Google e outros respondem tudo instantaneamente. Que maravilha!!! Será?

            A tecnologia é ferramenta e não fim em si mesma, ela, pode ser de grande valia como pode ser catástrofe total, depende de seu uso. A tecnologia evolui certamente é por que humanos estão fazendo isso. A questão fundamental é a quem beneficia desta evolução? À “humanidade” ou aos humanos? Parece que uns poucos que dominam muito. Dominam todos e todos dominados por poucos tornam-se escravos. Escravos dos hábitos e usos desta tecnologia, sem a consciência do uso necessário e fundamental da razão, do livre arbítrio e da individualidade.

            A “escravidão tecnológica” neste sentido, torna-se devastadora da humanidade no sentido humanístico, quando, o ser humano torna-se apenas, repetidor do pronto e acabado enquanto a sua essência, perde-se no vazio da insensibilidade e na pura e simples repetição sem o crivo da reflexão. O ser humano precisa mostrar que é racional, que está vivo, atuante, construindo o mundo e construindo-se nele, sob pena de esvaziar-se a tal ponto de sentir-se um nada, talvez por isso já tanta depressão, marginalidade e violência.

Portanto, o resgate do sentido das relações humanas diretas, especialmente no seio familiar, faz-se urgente.  Não basta estar conectado virtualmente, é preciso estar ligado, física e espiritualmente presente. Pais e filhos que não estão presentes, uns nos outros não conseguem suprir a necessidade fundamental de sentir-se parte, não uma parte qualquer, mas parte importante, fundamental, que dá razão e sentido à vida. Pais que não são presentes na vida dos filhos, terão filhos ausentes de suas vidas. Não basta gerar e preciso criar, dar vida e vida com sentido de viver e não apenas sobreviver. Existência vazia de sentido, não vale a pena ser vivida. Família é berço de humanidade.

A complexidade do mundo tecnológico não pode tirar o elo de ligação entre humanos, a tal ponto de não deixar perceber o outro como parte de si mesmo, sob pena de acabar encontrando-se sozinho no mundo. Quando conecta-se demais e não aos demais ou exclusivamente na tecnologia, esquece-se de si mesmo.

É urgente que pais e filhos fiquem ligados, conectados uns nos outros, inclusive usando também a tecnologia como instrumento, sem esquecer-se de si mesmo e do outro ligados pelo amor que é a única forma de dar sentido à vida humana e fazer elo com o mundo que está ao redor.

O abraço enviado pela net não tem o sentido, o calor, a afetividade e o prazer daquele que é dado pessoalmente!

REFERÊNCIAS

Palestra Frei Antônio Moser em www.youtube.com/watch?v=8EsS7SenJ4g

BAUMAN, Z. “MODERNIDADE LÍQUIDA”. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BOWLBY, J. “FORMAÇÃO E ROMPIMENTO DOS LAÇOS AFETIVOS” – 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

FREIRE, P. “PEDAGOGIA DA TOLERÂNCIA”. São Paulo: Unesp, 2004.

SANTOS, J.F. “O QUE É PÓS MODERNO”. São Paulo: Brasiliense, 23 ed, 2005 (coleção primeiros passos).

Idovino e Maria de Fátima Baldissera – Associados da Escola de Pais – Seccional de Videira, Diretores de Congressos da Diretoria Executiva da Escola de Pais do Brasil. 

Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil Seccional de Curitiba, ano 56, ed. 49, setembro 2020, p. 21.

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