A pedagogia do olhar na era digital e em tempos de pandemia

O emblemático biênio 2020-2021 merece ser marcado por profundas reflexões sobre todas as esferas que norteiam a humanidade. Em especial atenção sobre os impactos humanos do uso das tecnologias digitais e suas representações para a pedagogia do olhar no ambiente familiar, tendo como foco de observação, o olhar do pai, da mãe, da criança, do adolescente, do vô, da vó, submetidos ao episódio da pandemia por Covid-19.

Ao analisar a “pedagogia do olhar”, enquanto processo de ensino e de aprendizagem, para onde, para quem, para o que, por quanto tempo e de que forma se olha, durante o período da pandemia e de isolamento social, conduz-se inevitavelmente trazer para o centro das atenções a entidade “família” e com ela, a sua composição humana e tecnológica.

Resta discernimento, harmonia e sabedoria da “família” de como lidar com as circunstâncias criadas e quanto mais requeridas com a pandemia, com os teletrabalhos, as teleaulas, as atividades caseiras compartilhadas, as comunicações instantâneas, principalmente frente às incertezas em relação ao futuro, porque certamente nada será igual como antes.

Assim, vale analisar como se encontra a entidade “família”, em plena era digital, considerando que, certamente, essa é a entidade social que mais está sendo “provada” e submetida a ajustes e rearranjos nesse biênio. Sob condições em que estão sendo comprovados quão fortes ou enfraquecidos estavam os enlaces no seio familiar, as proximidades ou os distanciamentos físicos e emocionais, dos olhares, dos corações, dos cuidados, dos amores, até iniciar a maratona pandêmica.

Há de se considerar que este é um momento de grande oportunidade para cada “família” rever, resgatar e remodelar a essência do olhar e do cuidado entre os seus membros, em plena era digital, ao ser chamada a participar de movimentos que resgatam a essência das relações humanas e da afetividade entre pais e filhos, a qual está na proximidade e na comunicação, e, evidentemente, não são garantidas plenamente com a conectividade.

Agrega-se, assim, à pandemia pelo invisível Coronavírus, os efeitos deletérios da pandemia cultural dos transtornos mentais que já vinham em franca disseminação antes desse vírus, também entre adolescentes e jovens, resultantes, muitos deles, de enlaces familiares frouxos e relacionamentos empobrecidos. Qual seria o antídoto para estes males, senão o amor sólido, duradouro e resistente perpetrado a favor das gerações futuras, mesmo quando estes enlaces estão e são submetidos a provações? Como resgatar a arte das relações entre cuidadores das próximas gerações, senão aplicando paciência, compreensão e, principalmente, tempo e disposição para ajudar crianças e adolescentes a florescer o que há de bom em sua humanidade, valorizando as suas emoções, desenvolvendo neles o senso de pertencimento e os ensinando a destilar os sentimentos ruins?

Não se pode negar, que estas seriam saídas plausíveis para fortalecer uma família, uma sociedade, que clama e luta por se manter resistente às intempéries potencializadas por qualquer fenômeno, quer seja ocasionado com uma pandemia bioquímica ou por outra fonte que origine uma pandemia psicológica que se manifeste em todos espaços, culturalmente evidenciada em todas as fases da vida humana, mas com inegável prejuízo para a infância, a adolescência e a juventude de qualquer tempo.

E, num contexto altamente tecnologizado, os pais são modelos de comportamento, assim, devem regular seus próprios comportamentos relacionados às tecnologias digitais, em tempos de pandemia. Na verdade, em todos os tempos, aplicando para si, refletem na pedagogia do olhar, o exemplo a ser seguido.

Cineiva Campoli Tono – Especialista em Formulação e Gestão de Políticas Públicas (UFPR), Mestre em Educação (UFPR), Doutora em Tecnologia e Sociedade (UTFPR). Atualmente atua como Gerente de Projetos no Departamento de Justiça da Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho do Paraná. cineivatono@gmail.com

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*