A avó educa ou deseduca?

 

“Elas dão uma noção mais ampla de família e permitem à criança saber que tem uma história. A relação com a avó é de uma intensa troca de afeto.”

 Uma data desconhecida por muitos: 26 de julho, dia da Avó. Uma data oportuna para colocar em pauta um tema que sempre mereceu muitas reflexões dos educadores: afinal, qual o papel da Avó no processo educacional da família? Como ela pode dar sua contribuição sem invadir o espaço de autoridade dos pais?

Muitas vezes, relações marcadas pelo conflito. Esse é o cotidiano de muitos pais que dividem com os avós a tarefa de educar as crianças. Para a educadora Tânia Zagury, toda a diferença de métodos para bem educar acaba evidenciada pela diferença de gerações entre os pais e avós das crianças. Singularidades que podem atrapalhar, quando não compreendidas. Mas que também podem se transformar em uma rica experiência.

Entre tantos pedagogismos e tantas teorias educacionais, em um ponto parece que há consenso: na regra geral, a avó representa um insubstituível elo afetivo na corrente familiar e isso tem seus reflexos positivos, quando se sabe que o componente emocional é um dos vetores básicos no processo de aprendizagem e socialização das crianças.  

Esse papel ainda continua sendo muito consistente no meio de muitas famílias, sobretudo diante da complexidade social que, em alguns casos, tem fragilizado o papel dos pais, massacrados pela correria da cidade grande e pela luta desvairada da sobrevivência, ou então pela programação intensiva da televisão, o que lhes subtrai o tempo disponível para o diálogo rotineiro e necessário com os filhos.

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Filósofa e mestre em educação, autora de nove livros sobre o assunto, Tânia Zagury é categórica. “O papel da avó e ser avó. É dar carinho, contar histórias. A avó é para ter prazer com as crianças”, diz Tânia, ressaltando que a avó desempenha um papel fundamental na formação das crianças. “Elas dão uma noção mais ampla de família e permitem à criança saber que tem uma história. A relação com a avó é de uma intensa troca de afeto. A criança se sente amada, valorizada e isso ajuda a desenvolver a autoestima”, avalia a especialista.

Avós e mães: uma relação delicada.

De onde vem, então, o conhecido ditado “Mãe educa e avó deseduca”? A lógica do pensamento é simples. As avós capricham nos mimos e agrados, e as crianças têm satisfeitas todas as suas vontades e caprichos. Para os pais sobra um papel bem menos simpático: cobranças, broncas e proibições. Mas mesmo as avós “subversivas”, que tratam os netos como deuses, não comprometem à formação. Isto mesmo quando a atitude de fazer todas as vontades do neto, invariavelmente, termina em conflitos familiares.

“A avó não vai fazer nada que prejudique a criança. Também não se pode achar que a avó vai educá-la como se fosse a própria mãe. Ela pertence a outra geração, com outros valores, e é preciso compreender isso. Mas, mesmo quando faz todas as vontades do neto, a avó não está prejudicando. A criança tem discernimento para saber que, com a avó, o comportamento deve ser um, e com a mãe as regras são outras. O importante é ver a essência do processo”, diz Tânia.

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Uma relação de pura amizade. Com açúcar e com afeto.
Cabeça branca, óculos, cestinha de costura no colo. Esta é a apresentação de Dona Benta no primeiro parágrafo do livro Reinações de Narizinho. Nas histórias infantis de Monteiro Lobato, a avó encarna a figura de educadora cuidando dos netos, Pedrinho e Narizinho, que vão passar férias em seu sítio. Nas páginas do autor não há conflito entre mãe e avó, já que a figura materna sequer é apresentada. Nas lembranças de muitos adultos de hoje ficam, além dos contos do Sítio, recordações de vovó de verdade, que se esmerava na tarefa de contar história e fazer muitos – mas muitos – bolos e quitutes.

Contudo, a realidade da convivência em família nem sempre é tão doce. Às vezes, a relação entre mães e avós não é pacífica. Os conflitos são freqüentes em alguns relacionamentos, onde existe até uma disputa pela atenção da criança. Logo, um convívio tranquilo exige “jogo de cintura” de ambas as partes. Porém, donas de uma experiência e conhecimento invejáveis, afinal já educaram seus filhos, as avós podem contribuir ainda mais para a convivência harmônica.

Para isso, elas devem seguir algumas regras consideradas básicas para melhorar a relação entre gerações e que prometem encerrar conflitos familiares. Quem já seguiu a cartilha da vovó ideal, recomenda. Confira alguns mandamentos da avó perfeita para pais e netos:

I. Amar os netinhos. Este é fácil e geralmente cumprido com eficiência.

II. Colaborar com os pais na educação.

III. Para facilitar isto o ideal é uma boa conversa para saber o que os pais querem.

IV. Dar mais sugestão e menos conselhos aos pais.

V. Não competir com os pais pela atenção das crianças. Às vezes é deflagrada uma batalha não declarada.

VI. Consolar os netos sem desautorizar os pais, mesmo que acredite que eles estejam errados.

VII. Ouvir os netos para que eles se sintam compreendidos.

VIII. Contar histórias que sejam agradáveis.

IX. Fazer bolos, doces e salgados que ficarão para sempre na memória.

Disponível em:

http://www.taniazagury.com.br/entrevistas.asp?pgNum=8&cdc=16

*Tânia Zagury – Mestre em Educação, Filósofa, Professora de Psicologia da Educação, Sociologia, Filosofia e Didática. Autora de vários livros dentre eles LIMITES SEM TRAUMA, da Editora Record, RJ.

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