A psicologia positiva é uma nova abordagem da psicologia que surgiu a partir dos estudos de Martin Selligman. Estuda os hábitos das pessoas saudáveis e bem sucedidas, que se sentem satisfeitas na vida. Saúde é algo que se conquista e se mantém. Ter boa saúde é dormir com facilidade e acordar com disposição, comer na medida, ter boa memória e concentração, é ser sincero, grato e amoroso. Ser bem sucedido não quer dizer apenas ter sucesso financeiro. É sentir que você pertence, faz parte deste mundo e este mundo faz parte de você. Ter bom relacionamento com a família e os amigos.
E por que educar a família e não apenas as crianças?
Porque educar é mais complexo que ensinar. Educar é viver o que você ensina. E para isso, precisamos aprender a contemplar o belo. Olhar e apreciar o belo da cidade, do campo e também a beleza que existe nas pessoas.
Olhar e apreciar o belo é um dos princípios da psicologia positiva.
E precisamos treinar esta visão na vida, estamos treinados para ver problemas e defeitos. Aprender a ver o que funciona e depois procurar soluções para as dificuldades. Não é ignorar as dificuldades, apenas não se concentrar tanto nelas.
Outro princípio é a gratidão. Agradecer sempre e muito. Praticar a gratidão, aquilo que vem de “graça”. Se você acredita, agradeça a Deus. Agradeça a seus pais, seu marido, esposa, filhos. Agradeça a seus colaboradores. Agradeça! Expresse isto e você verá que diferença vai fazer na sua vida e daqueles que te rodeiam. Tenha um diário da gratidão, todos os dias escreva três coisas que aconteceram no seu dia que fizeram seu dia valer a pena (pequenas coisas ou grandes, não importa). Escreva, registre. Quando precisar volte lá e relembre o que foi bom, de preferência antes de dormir.
Terceiro princípio: elogie o mais possível, sempre que possível. Elogie as criança e os adultos também. As crianças que são elogiadas ficam mais confiantes, são mais espontâneas e têm coragem de experimentar o novo, dizer o que pensam, aprender “a pensar”. Os adultos que são elogiados procuram caprichar cada vez mais naquilo que fazem bem, pode ser: cozinhar bem, cantar bem, trabalhar bem etc. Você procura se superar com alegria (não com excesso de exigência).
Quarto princípio: diga não quando necessário. Explique o porquê, porque não pode e diga se e quando vai poder. Exemplo: agora você não pode comer sorvete (antes do almoço), porque sorvete não é comida, é sobremesa. Você vai almoçar e daí você ganha um pouco de sorvete.
Quinto princípio: ensine a criança a ter boas expectativas. Você vai estudar e fazer uma boa prova, por exemplo. A criança que aprende a ter boas expectativas vai criando profecias autorrealizadoras que serão positivas. Podemos chamar de profecia aquilo que acreditamos sobre nós e nosso futuro e, por isso, tendemos a cumprir e realizar. Por exemplo: quando eu crescer eu vou conhecer o mundo, vou trabalhar muito, vou ter quatro filhos etc. A criança também precisa aprender a lidar com resultados que não são bons de imediato. Hoje, você perdeu o jogo, outro dia você ganha. Hoje, você não fez uma boa prova, mas a próxima será melhor.
Sexto princípio: ensine a persistência. Vamos treinar um pouco mais matemática e então você ficará bom nesta matéria. Vamos treinar para fazer um lindo quadro a óleo, ou uma aquarela. Nem sempre o primeiro bolo fica bom.
Leve seu filho para a cozinha, menino ou menina, treine com eles. Aprendam a fazer biscoito, bolo etc. Na cozinha, se aprende a ter paciência e concentração, a compartilhar o bom, a comer devagar etc. A criança e os adultos precisam aprender a falhar. Aprender a lidar com resultados que não saem como desejamos. Aprender a falhar para não ter que falhar para aprender.
Sétimo princípio: busque alguém que você admira para modelar.
Por exemplo: quero jogar tênis como o Guga. Busque qualidades que você deseja modelar e praticar. Diga para seu filho: eu acredito que você pode fazer isto, vá lá, força, esforço (na medida). Ensinar que sem foco e sem esforço não existe sucesso na vida. Precisamos primeiro semear, esperar crescer e depois colher!
Oitavo princípio: mudamos através das emoções positivas. Informação não é suficiente para a mudança. Só saber não ajuda. Preciso saber, ter uma motivação positiva e acreditar que eu sou capaz de fazer o que desejo.
Exemplo: eu quero emagrecer, sei que preciso emagrecer para minha saúde. Mas só saber não basta. Preciso acreditar e ter um bom motivo, um motivo que me alegre. Quero emagrecer para me sentir mais atraente, para me arrumar bonita, para poder caminhar com mais conforto etc. Quero parar de fumar para viver mais, sentir mais o gosto da comida, ter um hálito agradável e não para não morrer de câncer.
Existem três tipos de mudança: pequenas, médias e grandes. As mudanças que permanecem são aquelas que surgem a partir da motivação positiva.
Nono princípio: procure brincar. Brincar faz bem para as crianças e para os adultos, se possível brinquem em família. Façam atividades onde todos se divirtam. Toquem um instrumento, cantem, cozinhem, façam passeios, visitem museus, assistam a filmes.
E também procurem espaço para o casal ” brincar a dois”. Brincar de namorar, passear, sexo, conversas especiais (falar do que admiram um no outro, do que foi importante para cada um, agradecer a cada um etc.)
Décimo princípio: aprenda a ser HUMANO! Para ser feliz precisamos também aprender a aceitar algumas dificuldades ou características que temos. O segredo da felicidade é ter persistência para mudar o que podemos, paciência para aceitar o que não podemos mudar e sabedoria para distinguir entre os dois. Aceitar que não tenho habilidade para ser atleta, mas posso aprender a gostar de uma ginástica diferente. Aceitar que não sou boa na cozinha, mas sou ótima no meu trabalho etc. Precisamos permitir que as crianças sejam humanas. Não dizer que elas tem que engolir o choro. Respeitar que elas tem medo, procurar protegê-las e incentivar para que superem aos poucos seus medos. Quando sentirem ciúmes, dizer “eu sei que você está com ciúmes, mamãe entende. Eu também gosto de você, você é o meu filho único mais velho”. Ensinar que cada filho é único, por exemplo.
Permitir que as crianças expressem sua raiva. Expressar não é atuar. O adulto também pode dizer que não gosta quando a criança mente ou não cumpre o combinado.
Os adultos precisam ser adultos, criança precisa de adulto na família. Às vezes, a família inteira parece criança ou adolescente. Os adultos são aqueles que fazem o que gostam e o que precisam. E podem aprender a gostar de quase tudo o que fazem. As crianças querem fazer apenas o que gostam. Precisam aprender aos poucos a fazer o necessário. Brincar e guardar os brinquedos, por exemplo.
Aplicando esses princípios, as relações familiares melhoram, você terá mais alegria, mais confiança, gratidão e seu grau de satisfação com a vida irá aumentar. A família aprende a ser mais feliz e ensina as crianças o caminho da felicidade. A felicidade é um caminho e é caminhando que se faz o caminho! Vamos caminhar? Caminhar com alegria, vendo o belo da vida, o belo das pessoas, cultivando a generosidade e a confiança frente aos desafios naturais que estão esperando por nós!
E para finalizar aí vai um trecho de um poema de Fernando Pessoa:
“O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha.
Pensar como quem anda.
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja.”
Márcia Alencar – Psicóloga – CRP 12/00559, Psicoterapeuta e Hipnoterapeuta, Especialista em Psicologia Clínica – Florianópolis. E-mail: psicomar@terra.com.br
Publicado na Revista Escola de Pais do Brasil – Seccionais de Biguaçu e São José, nº 5, junho de 2014, p. 10.
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